Quatrocentos e sessenta e oito dias depois da data prometida pelo prefeito João da Costa (PT) para o início das obras da Via Mangue (2º e 3º etapas), o Recife assiste hoje o primeiro bater de estacas, de fato, de uma intervenção urbanística necessária e prometida desde o final da primeira gestão do ex-prefeito João Paulo, em março de 2004.
De lá para cá, um paradoxo: a velocidade com a qual o Partido dos Trabalhadores acumulou votos a partir da promessa “salvadora da pátria” é inversamente proporcional ao ritmo que marcou os procedimentos legais para a efetivação dela.
A irresponsabilidade de prometer e não cumprir custou a todos nós, cidadãos, centenas de horas em engarrafamentos nas intermináveis voltas para casa.
Fins de tarde caóticos que ainda nos atormentam.
Portanto, prefeito, este não é momento de discurso político-eleitoral e sim de respeito a todos nós recifenses vítimas de um grupo político que promete muito e pouco faz.
Dias atrás, após a assinatura do financiamento junto à Caixa Econômica Federal e questionado pela imprensa sobre (finalmente) a data do início real da obra, João da Costa saiu com essa: “Teremos um pequeno atraso, de dez dias, mas ainda estamos no cronograma”.
Num rápido olhar no retrovisor, mais frases no mínimo inusitadas sobre a Via Mangue: “As obras seguirão um cronograma, dividido por etapas, com previsão de término até o fim de 2012” (14/01/2010). “As obras devem começar em abril próximo” (17/01/2011).
Do secretário de Controle Urbano e Obras, Amir Schvartz: “A obra se inicia até janeiro de 2011” (24/09/2010).
Surreal.
Desequilibrado em meio a uma gestão sem rumo e sem compromisso com promessas lançadas como bananas na feira – afinal de contas o projeto da obra em questão foi apresentado oficialmente pela URB em 23 de setembro de 2009, há nada menos que 21 meses -, o prefeito aposta agora no vale tudo.
Se responsável fosse, João da Costa reconheceria os erros da gestão, a culpa pelo atraso, e trabalharia apenas para a máquina moer.
Sem retóricas vazias de quem tenta tapar o sol com a peneira.
Não há mais espaço para promessas.
O que importa, mais do que nunca, é a obra em si.
Se cumprir o cronograma e respeitar o cofre público, agradeceremos.
Para isso, como vereadora do Recife e líder da oposição na Casa, não esperarei o desrespeito às regras, aos prazos, marca principal da administração João da Costa.
Afastada das atividades diárias do Legislativo, por conta da licença-maternidade iniciada no início da semana, solicitei à equipe do gabinete a montagem de uma estratégia de fiscalização como pente fino.
Mensalmente divulgaremos relatório de andamento da intervenção, além de indicadores percentuais em torno da emissão de empenhos à Queiroz Galvão, empreiteira responsável, através do Sistema Orçamentário e Financeiro (Sofin) da PCR.
A fiscalização permitirá ao cidadão ter a exata dimensão do ritmo da obra.
Até porque, infelizmente, intervenções como a do Dona Lindu, do Pilar e do Capitão Temudo, entre outras, são exemplos nítidos de que o que a gestão municipal fala não se escreve.
A Via Mangue não suporta mais palavras no ar. *Priscila Krause (DEM) é vereadora e líder da oposição na Câmara do Recife e desde o início do mês cumpre licença-maternidade.