Por Gabriela Guerreiro, na Folha.com Sem revelar detalhes sobre o faturamento de sua empresa e nem dizer quem foram seus clientes, o ministro Antonio Palocci (Casa Civil) falou nesta quinta-feira (26) com senadores da bancada do PT.
Ao final do almoço da presidente Dilma Rousseff com os parlamentares petistas, o ministro pediu a palavra para negar que sua empresa de consultoria, a Projeto, tenha cometido irregularidades que lhe permitiram aumentar em 20 o seu patrimônio. “Ele falou por mais de 15 minutos por iniciativa dele, explicou todas as coisas.
Ele o fará por intermédio da resposta que está dando à Procuradoria Geral da República”, disse o líder do PT, senador Humberto Costa (PE).
Sem revelar as explicações do ministro, Costa disse que toda a bancada saiu “contemplada” com o que foi dito por Palocci. “A mim, como aos demais senadores que lá estiveram, as explicações nos pareceram bastante consistentes.” O senador Wellington Dias (PT-PI) afirmou que Palocci atribuiu à oposição o vazamento das denúncias –em especial “tucanos” que estão em São Paulo. “Estão buscando fazer um terceiro turno desse episódio. É o PSDB que está por trás disso, sem a preocupação dos danos que isso pode causar”, afirmou Dias.
O petista disse ainda que Palocci explicou que cumpriu a “quarentena” ao deixar o governo, sem desrespeitar a legislação prestando consultoria a empresas privadas. “Ele não pode divulgar o nome das empresas porque tem cláusula de sigilo”, afirmou Dias.
Costa disse que, na opinião do senadores do PT, nenhuma das denúncias contra o ministro representam uma “acusação frontal” ou “algo consistente” que comprometa a sua credibilidade. “Como há um movimento feito pela oposição que é a representação à Procuradoria Geral da República, vamos esperar essa resposta para ver se é convincente ou não.
Para o que foi dito a nós aqui hoje, é bastante convincente.” QUEIXAS - No almoço, os petistas reiteraram à presidente queixas em relação à falta de diálogo de Dilma com a base aliada.
Costa afirmou que os senadores explicitaram à presidente que é necessário ter um diálogo mais “fácil” com os parlamentares aliados. “Fizemos ver a presidente que é necessário que tenhamos um acesso mais fácil, que possamos conversar mais com as pessoas do governo que estão à frente desse tema [Código Florestal] e de outros debates também.
Em nenhum momento houve qualquer tipo de contraposição a esta ideia”, afirmou.
PATRIMÔNIO - Na última semana, a Folha revelou que Palocci multiplicou por 20 seu patrimônio em quatro anos.
Entre 2006 e 2010, passou de R$ 375 mil para cerca de R$ 7,5 milhões.
Ontem, a liderança do PSDB na Câmara levantou suspeitas de que pagamentos feitos pela Receita Federal à incorporadora WTorre, no valor de R$ 9,2 milhões, durante as eleições do ano passado, estejam relacionados ao trabalho de Palocci, e a doações para a campanha presidencial de Dilma Rousseff.
O deputado Fernando Francischini (PSDB-PR) apresentou à imprensa registros públicos do Siafi (o sistema de acompanhamento de gastos da União) e da Receita Federal que indicariam uma relação entre pagamentos feitos pela Receita à WTorre Properties, um braço do grupo WTorre, e o trabalho do ministro na incorporadora.
No dia 24 de agosto, a WTorre protocolou na Receita um pedido de restituição de Imposto de Renda de pessoa jurídica relativo ao ano de 2008.
Na mesma data, a incorporadora fez uma doação de R$ 1 milhão para a campanha presidencial de Dilma –outra parcela de R$ 1 milhão foi depositada à campanha no mês de setembro.
A restituição da Receita ocorreu apenas 44 dias depois do protocolo, no valor de R$ 6,25 milhões.
Segundo Francischini, o prazo da devolução é recorde.
Segundo reportagem da Folha, a WTorre foi uma das clientes da empresa do ministro, a Projeto Consultoria Financeira, que teve um faturamento de R$ 20 milhões somente no ano passado.