Foto: Sérgio Lima/Folhapress Na Folha.com A liderança do PSDB na Câmara levantou há pouco, em entrevista coletiva, suspeitas de que pagamentos feitos pela Receita Federal à incorporadora WTorre, no valor de R$ 9,2 milhões, durante as eleições do ano passado, estejam relacionados ao trabalho do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, e a doações para a campanha presidencial de Dilma Rousseff (PT).

A Folha revelou, na última sexta-feira, que a WTorre foi uma das clientes da empresa do ministro, a Projeto Consultoria Financeira, que teve um faturamento de R$ 20 milhões somente no ano passado.

O deputado Fernando Francischini (PSDB-PR) apresentou hoje à imprensa registros públicos do Siafi (o sistema de acompanhamento de gastos da União) e da Receita Federal que indicariam uma relação entre pagamentos feitos pela Receita à WTorre Properties, um braço do grupo WTorre, e o trabalho do ministro na incorporadora.

No dia 24 de agosto, a WTorre procotolou na Receita um pedido de restituição de imposto de renda de pessoa jurídica relativo ao ano de 2008.

Na mesma data, a incorporadora fez uma doação de R$ 1 milhão para a campanha presidencial de Dilma Roussef (PT) –outra parcela de R$ 1 milhão foi depositada à campanha no mês de setembro.

A restituição da Receita ocorreu apenas 44 dias depois do protocolo, no valor de R$ 6,25 milhões.

Segundo Francischini, o prazo da devolução é recorde.

Em entrevista coletiva, o líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP), e o deputado Vanderlei Macris (SP) reforçaram o pedido de Francischini para que a Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara instale uma comissão para averiguar o assunto. “Há indício grande e forte de tráfico de influência.

Queremos ver as explicações do ministro, da Receita e da empresa”, disse Fracischini. “Existem indícios muito consistentes de que poderia ter havido uma triangulação envolvendo a WTorre e a consultoria do ministro. É um ingrediente muito forte para a CPI seja instalada”, disse Nogueira.

OUTRO LADO O ministro se recusa a divulgar a lista de seus clientes e a revelar no que consistiu seu trabalho.

No sábado (21), Walter Torre, dono da empresa, afirmou em seu Twitter que Palocci foi contratado para –uma vez ao mês– dar sua opinião sobre política e economia aos funcionários e clientes da construtora.

Sobre as doações de campanha eleitoral, a incorporadora afirmou que “todas as doações efetuadas foram devidamente registradas e seguiram as normas legais vigentes.” Há pouco a WTorre informou, por telefone, que um mandado de segurança levou à agilidade no pagamento criticado pelo PSDB.

O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), considerou a denúncia “ridícula”. “Eu não sei de onde vem tanto dado desse jeito.

Não vou comentar um assunto que não tem pé nem cabeça”.

Em nota divulgada às 20h, a Receita afirmou que o prazo de 44 dias para liberação dos recursos à WTorre “não é inusitada”.

A nota não mencionou mandado de segurança.

A Receita fez referência à modernização no sistema informatizado. “Até o mês de abril, após o reconhecimento do direito creditório, o valor ficava ‘parado’ no respectivo processo (cadastrado automaticamente) aguardando que a unidade comandasse a emissão da ordem bancária.

No mês passado, a RFB [Receita] implementou funcionalidade de Pagamento Automático, que não mais necessitará dessa intervenção da Unidade para a conclusão final do procedimento.”