Bruno Góes e Márcio Allemand, em O Globo Antonio Palocci já é game.
Enquanto em Brasília a evolução patrimonial do ministro da Casa Civil é motivo de polêmica, na rede mundial de computadores, os internautas não perderam tempo e já transformaram Palocci em personagem de jogo . “Palocci!O cara!” foi criado praticamente em tempo real com as suspeitas envolvendo a empresa de consultoria do ministro.
A dinâmica é simples: Palocci surge de dentro de buracos, e o internauta deve acertá-lo com socos.
Quanto mais socos, mais pontos.
A iniciativa reacende o debate: os games são apenas uma brincadeira ou fazem pensar a política? - O exercício da crítica, do deboche e da brincadeira é importante, pois não leva o poder a sério.
A maneira mais efetiva de derrubar o poder é rir dele.
Quando a gente contrapõe com riso e com ironia, a gente quer dizer que você não é sério.
E essa desconstrução do poder político é importante - analisa Geraldo Tadeu Monteiro, diretor do Iuperj.
Geraldo Monteiro lembra que o deboche faz parte da política desde sempre.
Ele lembra que o maior estadista grego, Péricles, tinha uma cabeça grande e que só se apresentava de capacete, sendo chamado de cabeção.
Agora, os games cumprem também esse papel.
Basta lembrar o jogo “Acerte a bolinha de papel no Serra” , que fez sucesso na rede na última eleição presidencial.
O game consiste em acertar uma bola de papel no candidato tucano, em referência ao episódio durante a campanha em que ficou a dúvida se o candidato havia sido atingido por uma pedra ou um papel.
Reprodução do jogo ‘Acerte a bolinha de papel no Serra’ - O principal papel destes games no Brasil é colocar as novas gerações em contato com a política através de uma linguagem lúdica.
Estes jogos não ensinam como se comportar diante de políticos, mas permitem o saudável exercício da crítica - argumenta Geraldo.
O “Jogo do Tiririca” , lançado este ano, teve mais de dois milhões de acessos.
No game, o internauta deve ajudar o deputado a escrever seu nome, numa sátira às notícias de que Tiririca seria analfabeto.
O jogo foi criado para divulgar um perfil no Facebook de política para iniciantes.
Mario Azevedo, um dos sócios da Interum Studio, empresa que criou o game, acredita no grande poder dessa nova ferramenta. - As pessoas levaram com bom humor e viram através do game a possibilidade de diversão, sem deixar de lado a discussão política.
Os games, especialmente os de redes sociais, permitem uma interação com os usuários que não se encontra em outras mídias, o que os transforma em uma ferramenta poderosa - afirmou.
Para o pesquisador e professor do Iuperj Marcelo Simas, qualquer iniciativa no Brasil que aproxime o eleitor da política é positiva, mas questiona o papel deles. - Na maioria das vezes, o eleitor brasileiro não quer debater.
Ele prefere satirizar, polemizar e muitas vezes até ofender.
A Internet é um velho oeste.
No game do Palocci, não há um debate de ideias.
Ele é uma sátira, um deboche.
O que um game como esse contribui para o país? - Marcelo Simas.
Geraldo Monteiro também faz ressalvas aos games criados em cima de fatos particulares.
Ele acredita que jogos como o do Palocci, Serra e Tiririca tendem a se esgotar.
Para ele, existem games políticos no sentido mais amplo, como RPG ou os que ensinam como se construir uma cidade ou nação. - Esses games exercitam a politica numa visão macro.
E é este aprendizado de vida política, com arrecadação de impostos, por exemplo, que terão importância no desenvolvimento do senso politico de cada um.