Pedro Soares, da Folha de São Paulo As instituições financeiras trabalham para “sabotar” as medidas do Banco Central, para conter o crédito e defendem juros mais elevados, focadas apenas em seus “próprios interesses e resultados”.
A opinião é do coordenador do Grupo de Análise e Projeção do Ipea, Roberto Messenberg.
Para Messenberg, o uso de juros maiores como instrumento de política monetária é mais vantajoso para bancos e outras instituições do que as medidas macroprudenciais de restrição crédito –que afetam as operações bancárias “mais rentáveis”, ao ampliarem compulsórios e cortarem recursos disponíveis para empréstimos.
Diante dessa discordância, diz, teve início uma campanha para difundir que a “inflação está fora de controle”, o que não é, segundo Messenberg, verdade.
Para o economista, o patamar mais elevado da inflação neste ano se deve a dois fatores: no mercado internacional, os preços mais altos das commodities (alimentos, minérios e energia) puxam os preços para cima no Brasil; já no cenário doméstico, a pressão vem principalmente do setor de serviços.
Segundo dados compilados pelo Ipea, os serviços registram alta de 8,53% em 12 meses até abril, acima do IPCA de 6,51% no período –a cifra superou, em abril, o teto da meta do governo (6,5%). “Não há descontrole da inflação.
O que há é que muitos querem sabotar [as ações de política monetária do BC].” Para Messenberg, antes, as instituições financeiras e um grupo “pequeno, mas ativo” de críticos havia tentado fazer “terrorismo” na área fiscal, apontando descontrole nesse campo.
Feito o ajuste fiscal do governo, eles perderam “esse argumento” e passaram a centrar fogo na inflação.
O economista criticou, porém, a intensidade e o modo que o ajuste fiscal foi realizado pelo governo, cortando gastos de investimentos –necessários para ampliar o potencial de crescimento da economia brasileira e eliminar o histórico de “voo de galinha” da país, que oscila anos de boa expansão do PIB com outros de baixo incremento.