Na Folha.com A oposição decidiu nesta terça-feira apertar o cerco ao ministro Antonio Palocci (Casa Civil) com pedidos de abertura de inquérito e de acesso às suas movimentações financeiras.

Os ataques acontecem um dia depois do Palácio do Planalto decidir não investigar a evolução patrimonial de Palocci.

No domingo, a Folha revelou que, entre 2006 e 2010, seu patrimônio foi multiplicado por 20 vezes, saltando de R$ 375 mil para cerca de R$ 7,5 milhões.

Na Procuradoria-Geral da República, o PPS pediu uma investigação sobre a evolução dos bens.

No documento, o partido pede ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que acione a Polícia federal para apurar quem são os clientes, o faturamento e o tipo de serviço da empresa Projeto.

A reportagem mostra que o ministro abriu a Projeto com sua mulher, Margareth, no dia 21 de julho de 2006.

A empresa foi criada como consultoria e virou administradora de imóveis dois dias antes de Palocci chegar à Casa Civil.

O ministro adquiriu dois imóveis em área nobre de São Paulo: um apartamento de R$ 6,6 milhões e um escritório de R$ 882 mil.

Os dois imóveis foram comprados por Palocci por meio da empresa, da qual ele é sócio principal, com 99,9% do capital.

O líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR), diz que no Congresso já se especula sobre a atuação da consultoria. “Por que esconder quais foram os clientes da consultoria?

Normalmente as empresas têm orgulho da carteira de clientes que possuem.

Isso serve até para fechar novos negócios”, questiona Bueno.

Gurgel já afirmou que a evolução patrimonial do ministro merece um “olhar mais cuidadoso”.

Ele disse que esperava o pedido do PPS para iniciar a apuração. “Estava me preparando para pedir informações para o próprio ministro-chefe da Casa Civil e para a Comissão de Ética Pública [da Presidência], quando fui informado [que a oposição entrará com representação].

Decidi aguardar para ver os elementos que serão apresentados a mim”, afirmou Roberto Gurgel.

Mais tarde, outro pedido será protocolado com a assinatura do PSDB e DEM.

CONTAS - Em outro flanco, o PSDB entrou com ofício no Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) –órgão vinculado ao Ministério da Fazenda– pedindo explicações sobre as movimentações financeiras do ministro.

O líder do partido na Câmara, Duarte Nogueira (SP), disse que a oposição quer saber se há registro de ocorrência ou investigação sobre as transações bancárias efetuadas por Palocci ou pelas empresas das quais ele é sócio.

A oposição também quer saber se o Coaf foi comunicado quanto a transações ou operações que ultrapassem o limite de R$ 100 mil.

Outro ponto questionado é se há indícios no Coaf de que o chefe da Casa Civil ou as suas empresas tenham praticado algum crime administrativo.

COMISSÃO DE ÉTICA - Já o líder do DEM na Câmara dos Deputados, ACM Neto (BA), quer ouvir o presidente da Comissão de Ética da Presidência da República, Sepúlveda Pertence, além do ministro.

ACM Neto entrou com dois pedidos de convocação nesta terça-feira na Comissão de Fiscalização e Controle da Casa.

O líder do DEM pretende questionar Pertence sobre o motivo de a Comissão de Ética da Presidência não abrir uma investigação sobre o caso.

Ontem, a Comissão de Ética informou não haver motivo para analisar a evolução patrimonial de Palocci.

IMPOSTO DE RENDA - A declaração de Imposto de Renda do ministro entregue em 2010 (ano base 2009) caiu na malha fina da Receita Federal.

Isso ocorre quando a Receita encontra irregularidade, erro ou os técnicos julgam necessário fazer uma verificação mais detalhada dos dados apresentados pelo contribuinte.

A declaração de 2011 (ano base 2010) já foi processada.

Nos dois anos, o ministro têm imposto a pagar.

Palocci informou, por meio da assessoria, que a retenção da sua declaração de IR do ano passado “decorreu de dados lançados incorretamente e já corrigidos” e que o imposto devido já foi pago.

Apesar da explicação do ministro, o site da Receita informa que “a declaração está na base de dados” da instituição, o que significa que o órgão ainda não concluiu esse procedimento.

A Receita disse que não comentaria o assunto por ser sigiloso.

OPOSIÇÃO - Apontado como um dos pré-candidatos do PSDB à Presidência em 2014, o senador Aécio Neves (MG) defendeu cautela nas acusações. “Não é nossa intenção criar movimento de desestabilização do governo.

Nesse momento, e essa é a posição majoritária da nossa bancada, é criar as condições para que esses esclarecimentos possam vir a ser dados.” Aécio disse que o momento é de “serenidade e firmeza” em relação ao ministro.

O líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), disse que Palocci deveria abrir espontaneamente seu sigilo fiscal para se explicar. “É evidente que há um movimento de opinião pública no sentido da suspeição absoluta.

Só explicações cabais poderão acabar com essa suspeição.” Na segunda-feira, o ex-governador José Serra (PSDB) afirmou que prefere não pré-julgar o ministro. “Ele vai dar as explicações.

Eu não tenho nenhum papel de investigador ou julgador a esse respeito.

Prefiro as explicações dele sem fazer um julgamento”, disse o tucano.

GOVERNO - Mais cedo, a presidente Dilma Rousseff fez um breve contato com a imprensa na manhã desta terça-feira, mas evitou comentar o caso.

Na chegada ao Salão Nobre do Palácio do Planalto, onde recebeu o primeiro-ministro da Suécia, Fredrik Reinfeldt, Dilma foi abordada pelos repórteres.

A primeira pergunta foi sobre sua saúde. “Estou na reta final.

Já não tenho mais a doença.

Agora tenho de recuperar”, disse a presidente.

Em seguida, um repórter perguntou sobre a “saúde de Palocci”.

A presidente disse que ele “está bem” e apontou para o ministro, posicionado na protocolar fila de ministros que cumprimentaria o primeiro-ministro sueco.

Perguntada em seguida sobre a “saúde política” do ministro, Dilma não respondeu.

Sobre a “saúde do governo”, fez um comentário genérico. “Nós todos estamos saudáveis.

Nós todos estamos bem neste país”, disse.

Os jornalistas que acompanhavam a cerimônia ainda tentaram falar com Palocci, mas o ministro seguiu na fila, conversando com o general José Elito Siqueira, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência.

Na manhã, ele cancelou sua participação no 23º Fórum Nacional, organizado pelo Inae (Instituto Nacional de Altos Estudos), no Rio de Janeiro.

Ele falaria no quadro “Visões de Brasil Desenvolvido: As Instituições”.

Segundo a assessoria de comunicação da Casa Civil, o ministro não confirmou presença no evento, embora sua participação constasse da programação oficial.

Ontem, o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral da Presidência) já havia dito que o governo não iria investigar o ministro. “Para nós, o assunto está encerrado e nós estamos muito satisfeitos com esse resultado.

Vamos para a frente”, disse o ministro.

Gilberto Carvalho se baseia nas conclusões da Comissão de Ética Pública da Presidência da República. À Folha, Palocci não quis identificar seus clientes nem informou o faturamento da empresa.