Por Matheus Pichonelli, iG Dois dias depois de assistir a mais um adiamento na votação do novo Código Florestal, o deputado federal Aldo Rebelo (PC do B-SP), relator do projeto na Câmara, criticou o tratamento dado pelo governo ao assunto.
Ao iG, Aldo diz ter deixado a sessão da última quarta-feira com a sensação de que o governo teve medo de ir adiante na apreciação da matéria. “Senti o que todo mundo sentiu.
Que o governo teve medo da votação.
Agora, o governo teve receio.
Só que adiar não resolve o problema.
Uma hora vão ter que votar”, disse o deputado, que conversou com a reportagem pouco depois de participar de um debate sobre o novo código com a Federação da Agricultura de Alagoas, em Maceió (AL).
Aldo afirmou que, desde o fim da sessão no plenário, não foi procurado por nenhum líder de partido para falar sobre eventuais mudanças no texto apresentado aos colegas – que levou ao recuo do governo e da bancada petista, que, após assinarem a versão final, argumentaram ter discordâncias do projeto.
O deputado, que já foi presidente da Câmara e líder do governo na gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, disse que preferia não comentar o fato de o governo não ter conseguido dialogar com a bancada sobre a posição do partido na votação.
Disse, no entanto, que o líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), fez apenas o que o governo determinou. “O líder do governo não é líder de bancada.
Ele recebeu orientação do governo e fez o que o governo faria”, disse.
O relator defendeu também a versão final apresentada no plenário, mas disse que não se sentiu traído pela posição dos líderes petistas, que assinaram o documento e depois recuaram. “Era o que estava acordado no texto geral.
Não tinha problema.
Aliás, não tinha nem pedido de retirada do requerimento de pauta.
Estava tudo resolvido” Após o desgaste, bate-bocas e adiamentos seguidos da votação do projeto, Aldo afirmou ter chegado ao final da semana como se fosse “qualquer outra”. “Não foi uma semana tensa, de jeito nenhum.
O dia da votação foi um dia como qualquer outro.
A Câmara vive de momentos de tensão política.
Foi assim no impeachment do (ex-presidente Fernando) Collor, na CPI do Orçamento e dos anões do orçamento, a CPI do mensalão, a cassação de mandatos.
Essas coisas o Congresso sempre enfrentou. É um assunto polêmico, como quando se discute mudanças na Previdência.
Já fui presidente da Câmara, líder do governo.
Enfrento isso com naturalidade.” Marina Silva Antes do encerramento da sessão que adiou a votação do projeto, Aldo Rebelo tomou o microfone para desferir ataques à ex-presidenciável Marina Silva (PV), que acompanhava a discussão no local.
Irritado, o deputado se queixou de críticas feitas pela ex-senadora por meio do microblog Twitter e ampliou o clima de tensão da Casa ao relatar uma suposta pressão para evitar o depoimento na Câmara do marido da ex-ministra, Fábio Vaz de Lima, por suposto contrabando de madeira.
Dois dias depois, mais calmo, Aldo argumentou: “Disseram que Marina tinha colocado no Twitter que tinha eu fraudado o relatório.
Me disseram que isso estava no Twitter.
Foi uma manifestação muito dura, e eu respondi na mesma proporção.
E eu pensei que ela tivesse de fato produzido essa nota.
Depois, vi que não fez.
Vi que ela disse que o relatório era uma pegadinha.
No fim das contas, respondi na hora uma acusação que considero grave.” Aldo, no entanto, disse ao iG que mantém a versão contada no plenário. “Houve esse episódio.
Foi em 2003 ou 2004, quando ela era ministra do Meio Ambiente.
E eu não o chamei de fraudador.
Eu disse que ele tinha sido acusado.
Eram acusações que saíram nos jornais.
Para isso, havia a Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara.
Mas ele estava sendo investigado fora da Câmara.
Se fosse convocado, seria uma coisa política.
Era uma questão política.
Mas investigação no Ministério Público continuou, e não sei até onde foi”, disse o relator, segundo quem as pressões para que a convocação não ocorresse vieram do PT – ele não apresentou nomes.
O episódio levou a bancada do PV na Câmara a lançar nota classificando as críticas como “aviltantes.
Segundo os deputados verdes, Aldo fez uma “acusação caluniosa e injusta”. “O deputado foi duplamente injusto.
Primeiro, acusou Marina Silva de usar seu Twitter para dizer que o deputado Aldo Rebelo havia fraudado o seu relatório. É uma inverdade.
O deputado foi mal informado.
Marina disse que ele havia apresentado seu relatório e que nele havia ‘pegadinhas’.
Em momento algum referiu-se a fraude”.
O episódio, diz a nota, demonstra “desequilíbrio e falta de preparo para o exercício de função” para o deputado.
A nota nega o envolvimento do marido da ex-ministra em supostas fraudes.