Por Gustavo Krause, especial para o Blog de Jamildo Um breve esclarecimento: não se trata de buraco negro nem de buraco branco, objetos de estudo da astrofísica.
O buraco a que me refiro é aquele do qual você é vítima quando põe os pés nas calçadas.
E por falar em calçadas, a nossa cidade é uma tragédia.
Sobre o assunto, o grande urbanista e ex-prefeito de Bogotá, Enrique Peñalosa, ensina com autoridade da experiência exitosa: “As calçadas são parte do sistema de transporte porque a jornada começa quando saímos de casa (…) Uma calçada boa é o símbolo de que o cidadão tem o mesmo valor de outros que possuem carros que custam milhares de dólares (….) Uma cadeira de rodas é a máquina do planejamento urbano (…) Amarraria o secretário de planejamento na cadeira de rodas e dizia: vai andar pela cidade”.
Cuidar das pessoas ou fazer a cidade para gente começa dando prioridade aos pedestres, ciclistas e usuários de transporte público.
Plano de mobilidade centrado no automóvel e em grandes cirurgias urbanas significa agravar o problema.
Romper com a primazia dos carros exige muita coragem.
O fato é que andar na cidade significa uma condenação inapelável: os buracos das calçadas ou as balas perdidas e achadas nos corpos das vítimas da violência urbana.
E se você bota o carro na rua, a toada é a mesma.
Lá se vai o amortecedor, o pneu, a suspensão etc., e um buraco no bolso do cidadão.
Companheiro inseparável, o buraco está sempre de mãos dadas com o cidadão em cada solavanco.
Mas sejamos justos.
O buraco não limita ao Recife.
Ele está à sua espera em qualquer ponto cardeal da Região Metropolitana.
E para não perder o senso de justiça, a existência dos buracos se alastra pelas BRs e pela PEs.
Vai longe o tempo em que o velho DER-PE era um exemplo para o Brasil.
Sejamos justos.
Pernambuco não está só na buraqueira: a infraestrutura do Brasil é um gigantesco buraco.
As estradas assassinas matam por atacado; os aeroportos maltratam multidões (ora, direis, é a economia, idiota!
Quem nunca voou está voando).
Beleza!
Mas, nem por isto, são passageiros da agonia, tangidos como manadas e enlatados feito sardinhas.
Nas comunicações, o buraco é o silêncio.
Tem mais celular do que gente e mais usuário, abobalhado e sem falar, do que promete o milagre da tecnologia e a sedução da propaganda.
OI, TsIM, tudo bem?
CLARO!
Pô, a ligação caiu.
Em matéria de saneamento básico, a cratera engole 55% da população brasileira (Censo-2010).
Uma festa para os bichinhos que produzem um rombo enorme na saúde pública e afeta a qualidade de vida dos brasileiros.
O buraco é a nossa sina, dirão os filósofos de botequim, na origem da vida e no destino da morte.
Buracos naturais.
Tudo bem.
Mas para que antecipar a angústia, cavando buracos evitáveis?
Para dentro dos buracos institucionais, políticos, éticos, estes profundíssimos, fomos levados como os “carneiros de Panúrgio”.
Então, que se esboce uma reação contra os buracos reais, visíveis, concretos que impedem o exercício do sagrado direito de ir e vir, constitucionalmente assegurado a todos os cidadãos.