Da Agência Brasil O novo Código Florestal, que deve ir à votação hoje (4) na Câmara dos Deputados, poderá favorecer a derrubada de mais florestas e acabar prejudicando a própria agricultura.

O alerta é do cientista José Galizia Tundisi, especialista em recursos hídricos do Instituto Internacional de Ecologia e membro titular da Academia Brasileira de Ciências.

Ele acredita que a matéria ainda não está “madura” e seriam necessários mais debates para aperfeiçoar o projeto. “Nós ainda temos muitos assuntos para esclarecer.

Um deles é a necessidade de se discutir mais a importância das florestas para a quantidade e a qualidade da água.

O fato de que a agricultura possa sofrer uma expansão à custa do desmatamento vai prejudicar o suprimento de água no país e contribuir para prejudicar a própria agricultura.

Isso é um contrassenso.” O principal ponto de divergência entre a opinião do cientista e a proposta do relator Aldo Rebelo (PCdoB-SP) é a falta de garantia na preservação da chamada reserva legal, porção de mata nativa que os agricultores têm obrigação de manter.

O novo texto torna possível para o produtor rural abrir mão da área verde em sua propriedade, podendo manter parcela proporcional em outra região ou até em outro estado, desde que no mesmo bioma. “Essa reserva legal é necessária na propriedade.

Nós temos que proteger os mosaicos de vegetação, as florestas remanescentes, para garantir a qualidade da água e a recarga dos aquíferos, que beneficiam a agricultura e a quantidade de alimentos.

Quem trabalha com água e recursos florestais sabe perfeitamente que a diminuição de qualquer quantidade de vegetação pode prejudicar o ciclo da água e consequentemente a produção agrícola.

Cerca de 30% da água que estão presentes na atmosfera são repostas pelas florestas.” Para o cientista, é preciso melhorar a produtividade, em vez de simplesmente aumentar as áreas de plantio. “Não se pode aumentar as áreas agrícolas à custa do desmatamento.

Porque isso vai prejudicar a biodiversidade e inviabilizar a produção de alimentos.

Vai faltar água para a agricultura.”