Por Ana Laura Farias, do Blog de Jamildo As crianças que moram na periferia da Região Metropolitana do Recife têm as bibliotecas comunitárias como opção para acesso a livros e recreação, que muitas vezes, não encontram nas escolas que frequentam.
Esses espaços oferecem aos usuários títulos paradidáticos e literatura infanto-juvenil, entre outras opções.
O problema é que, por falta de apoio, muitas vezes essas bibliotecas não oferecem a infraestrutura adequada para o uso. “ O que as pessoas precisam entender é que essas bibliotecas são, muitas vezes um grito de socorro. É um pedido da comunidade para que o Governo olhe para ela, perceba suas necessidades”, diz o coordenador do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Marcos Galindo. É assim na Biblioteca Popular do Coque.
A coordenadora, Maria Betânia Nascimento, atende 45 crianças da comunidade em um espaço com sérios problemas de mão-de-obra e estrutura. “Às vezes, eu nem sei se torço para chover ou fazer sol.
Quando está no verão, as crianças sofrem com o calor, já que só temos um ventilador para todo o local.
Quando tem chuvas, é pior ainda, já que sofremos com as infiltrações, que alagam a biblioteca”, relata Betânia.
Outro problema encontrado é a quantidade insuficiente de profissionais.
Betânia fazia quase tudo sozinha.
Agora, está recebendo dois mediadores de leitura, por meio de convênio com a Prefeitura do Recife, mas ainda considera o número insuficiente. “Ainda é muito difícil.
Muitas crianças chegam aqui sem ter recebido a alfabetização, apesar de já terem idade suficiente para isso.
Então, nós temos que dedicar mais tempo e atenção, o que torna o atendimento ainda mais complicado”, comenta.
A Biblioteca Popular do Coque é mantida por um instituto social da iniciativa privada e por um grupo de aposentados que ajuda Betânia a pagar o aluguel.
O espaço tem 3500 títulos.
Todo o material de suporte do local são dois computadores, uma mesa, duas estantes e dois ventiladores.
Na divisa entre Recife e Olinda, outro espaço que sofre com problemas de estrutura é a Biblioteca Multicultural do Nascedouro, em Peixinhos, no antigo Matadouro.
Mesmo tendo mais equipamentos e espaço do que a biblioteca do Coque, muitas vezes o o local não é suficiente para atender aos usuários, especialmente aos idosos e deficientes, que não têm vias reais de acesso à biblioteca, que fica no segundo andar do prédio. “Muitas vezes, nós temos que descer parte do acervo para que eles possam ter acesso”, diz o gestor do centro, Rogério Bezerra.
A biblioteca oferece 6 mil títulos, com destaque para literatura nacional e infanto-juvenil, especialmente a seção de quadrinhos, que ainda deve ser ampliada.
Já a Livroteca Brincante do Pina, antiga Biblioteca Os Guardiões, está passando por uma situação mais confortável.
Se no começo, faltavam doações, hoje isso não é mais problema.
A biblioteca repassa alguns títulos para a Rede de Bibliotecárias Comunitárias da Região Metropolitana do Recife, do qual fazem parte a Biblioteca Multicultural do Nascedouro de Peixinhos, Biblioteca Popular do Coque, Biblioteca Carangueijo-Tabaiares, Centro Educacional Popular Mailde de Araújo - Cepoma (Brasília Teimosa), Biblioteca Peró (Jaboatão dos Guararapes), e Creche Lar Mei-Mei e Centro Educacional, Social e Cultural Shekiná (ambas em Olinda).
A biblioteca surgiu em uma palafita, criada por Kcal Gomes, que se insitutula “traficante de livros”.
Os maiores problemas da livroteca, logo após, ter se transformado em um Ponto de Leitura do Ministério da Cultura, eram o número insuficiente de pessoas para catalogação do acervo e atendimento aos usuários.
Antes, a equipe era formada por Kcal e duas mediadoras de leitura.
Hoje, Kcal é auxiliado por duas estagiárias do Governo do Estado (programa Governo Presente), além de um grupo voluntário de estudantes de Biblioteconomia da UFPE.
A livroteca oferece cursos de espanhol e inglês, para crianças e adultos da comunidade do Bode, além de oficinas de leitura.
A maior reclamação do público ainda é quanto à temperatura do ambiental, segundo o fundador.
A Brincante do Pina possui 40 mil livros.
O aluguel e as contas de água, luz, e telefone são bancados pela Prefeitura do Recife.
Questionado pela reportagem se mudaria a livroteca para um prédio maior, Kcal disse que não descartava a hipótese.
E se fosse fora da comunidade? “Aí, não.
Não saio da comunidade jamais”, conclui.