Por Cristina Isabel de Carvalho, especial para o Blog de Jamildo De acordo com o Ministério da Justiça, um dos símbolos mais difundidos da Justiça é a figura de uma mulher – a Deusa Themis.

Sua imagem sempre é apresentada com uma venda nos olhos e está frequentemente associada a uma balança e a uma espada.

Se outrora a venda nos olhos de Themis remetia a imparcialidade em seus julgamentos, atualmente, talvez seja preciso abrir os olhos da Deusa, e convidá-la a percorrer os Fóruns brasileiros para observar a dificuldade de acesso da população à Justiça, especialmente a de baixa renda, seja por desconhecimento de seus direitos ou por desânimo para enfrentar a burocracia e a morosidade na garantia dos mesmos.

Ao buscar atendimento, a população depara-se com Fóruns nos quais faltam bebedouros e condições mínimas de higiene nos banheiros; onde goteiras e infiltrações oferecem riscos a funcionários e usuários e, estes se acotovelam em balcões lotados.

Pilhas de processos aguardam julgamento, enquanto desmancham-se pelo manuseio, pela umidade e pelas más condições gerais de conservação.

Há tempos, a sociedade conhece esses problemas e sofre soluções promovidas de forma eventual, pontual e isolada.

Frente a uma demanda cada vez maior e complexa, é preciso construir soluções para obter Justiça ágil e eficiente, com políticas públicas, articuladas e permanentes, voltadas à melhoria da prestação jurisdicional através de ações e investimentos diferenciados, a fim de sanar desigualdades, sobretudo as institucionalizadas na cultura e organização dos Tribunais.

A agilização e a modernização da Justiça passa pelo acesso a novas tecnologias, como a digitalização de processos e o oferecimento de serviços virtuais com o uso da internet.

Entretanto, o investimento em condições dignas de trabalho é fato inquestionável para a eficácia e eficiência de qualquer serviço, seja ele oferecido pela Justiça ou não.

Quiçá, Themis abra os olhos por um instante e enxergue as condições nas quais trabalham servidores dos Tribunais de Justiça em todo país!

Onde, em geral, o corpo técnico é complementado por pessoal não especializado, que advém das prefeituras municipais, empresas terceirizadas e programas de voluntariado, ou por estudantes no cumprimento de tarefas que em nada contribuem para sua formação acadêmica.

Com os olhos bem abertos, espera-se que a Deusa, e seus pares, reconheçam os problemas da Justiça e identifiquem possíveis soluções, escutando com especial atenção servidores e servidoras que atendem diretamente à população e sofrem cotidianamente as más condições descritas, com as quais o usuário se depara ocasionalmente ao comparecer aos Fóruns.

Ao contrário do que muitos pensam, quem trabalha no Judiciário na maior parte dos estados reclama de defasagem salarial e falta de perspectiva de fazer carreira na instituição.

Ou seja, quem aceita ser nomeado, já assume pensando em sair. É preciso dar valor a quem faz a Justiça ficar mais próxima da sociedade.

Viu, Themis?