Robson Bonin, do G1 Depois de tomar o gravador das mãos de um repórter da rádio Bandeirantes na tarde desta segunda (25), o senador Roberto Requião (PMDB-PR) devolveu o cartão de memória do aparelho, mas apagou a entrevista em que foi questionado sobre a aposentadoria que recebe como ex-governador do Paraná.

No início da noite, o site do senador na internet divulgou a íntegra do áudio da entrevista, de quatro minutos e 20 segundos, interrompida por Requião depois que ele é indagado sobre a aposentadoria. “Já pensou em apanhar, rapaz?

Já pensou em apanhar?

Me dá isso aqui.

Não vai desligar mais p… nenhuma.

Vou ficar com isso aqui”, afirmou Requião.

O filho do senador, Maurício Tadeu, foi o responsável por entregar o cartão e responder às perguntas dos jornalistas no gabinete de Requião.

Perguntado sobre o motivo pelo qual o próprio Requião não fez a devolução, o filho do senador disse que não era responsável pelo gabinete do pai. “Não respondo pelo gabinete.

Vim ‘de boa’ devolver o cartão de memória para o jornalista.

O senador não se encontra.

Ele já saiu”, afirmou Tadeu.

O repórter da rádio examinou o conteúdo do cartão de memória e confirmou a ausência da gravação com Requião.

O senador confirmou no microblog Twitter que apagou a gravação: “Deletei entrevista dada a reporter agressivo e a ‘catigoria’ se alvoroça”.

O Comitê de Imprensa do Senado solicitou ao setor de comunicação da Casa as imagens das câmeras de segurança do plenário que possivelmente flagraram a ação do senador.

Versão do senador Mais cedo, no microblog Twitter, o senador postou a seguinte mensagem por volta das 15h40: “Acabo de ficar com o gravador de um provocador engraçadinho.

Numa boa , vou deleta-lo”.

Numa mensagem posterior, Requião afirmou: “Sou dono da minha entrevista e da minha opinião”.

O senador disse ainda pelo microblog ter sido alvo de “agressão e provocação” e de “tentativa de linchamento”. “Minha história e meu currículo suportam com facilidade.Boa discussão”, afirmou.

O presidente do Comitê de Imprensa do Senado, Fábio Marçal, acompanhou o jornalista até a Polícia Legislativa da Casa para registrar o episódio.

A polícia informou, no entanto, que só a Corregedoria da Casa poderia agir em casos envolvendo parlamentares.

Como o corregedor do Senado ainda não foi escolhido, o jornalista não conseguiu registrar a ocorrência para tentar reaver o gravador.

Depois, o repórter foi ao gabinete de Requião e recebeu o aparelho de volta, entregue pela secretária, mas sem o cartão de memória.

O episódio foi testemunhado por um grupo de repórteres que entrevistava o senador paranaense sobre o estado das contas públicas e a necessidade de se conter despesas na administração federal.

Requião defendia a economia nos gastos públicos, mais especificamente em casos como o da Previdência Social, quando foi questionado pelo jornalista se, em nome dessa mesma economia,. estaria disposto a abrir mão da aposentadoria como ex-governador.

Depois de tomar o gravador, segundo relato do repórter, o senador do PMDB tentou apagar a gravação registrada no aparelho e, de acordo com o jornalista, teria ameaçado agredi-lo.

O presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal, Lincoln Macario, criticou a conduta do senador. “A arbitrariedade não é prerrogativa de nenhuma autoridade.

Que a censura volte ao tempo sombrio que ela pertence.” Sarney O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), classificou o episódio como um “mal-entendido”. “Não conheço esse fato.

Acho que o senador Requião é um cavalheiro.

Deve ter ocorrido um mal-entendido porque ele não deve ter feito isso”, afirmou Sarney.

O presidente do Senado foi questionado sobre a ausência de um corregedor na Casa, que impediu que o fato fosse registrado, mas não respondeu.