Por Pedro Aníbal de Brito, especial para o Blog de Jamildo Como todos nós sabemos, nossa cidade recebe diariamente centenas de turistas que vêm atraídos por diversos motivos: Seja pelas nossas belezas naturais; para participar de algum evento; fazer negócios ou visitar parentes e amigos.

Assim, é inevitável que ele, só ou acompanhado, dê uma caminhada pela beira mar, mais especificamente, na tríade de praias da Zona Sul do Recife: Setubal, Boa Viagem e Pina.

E isso se dá pelo simples fato de este ser um agradabilíssimo e inequívoco bom programa, o qual é repetido diariamente por diferentes visitantes.

Porém, nem tudo os agrada na paisagem.

O fato que motivou esta narrativa se passou na Praia de Boa Viagem, mais especificamente, no trecho próximo ao Restaurante Ponteio Grill, na última quinta-feira, dia 21 de abril – início de um prolongado feriado nacional.

E que, infelizmente, foi o retrato de um flagrante de irresponsabilidade e desrespeito (em primeiro lugar) à natureza, ao turista que nos visita e ao próprio morador da cidade.

E isto ocorre cotidianamente à beira mar de qualquer praia do litoral de Pernambuco.

Mas em Boa Viagem, vitrine da cidade, é onde estas atitudes deploráveis tornam-se mais visíveis.

E elas são realizadas por alguns recifenses mais despreparados, e ainda gozam da conivência de outros tantos que se dizem esclarecidos.

Atitudes estas, que são igualmente reprovadas pelos visitantes (como mostra a foto).

O triste episódio ocorreu quando este trio de estrangeiros resolveu sair da caminhada pelo calçadão e, aproveitando a maré baixa, decidiu passear mais a beira d’água.

Para surpresa deles, o lixo tomava conta ao longo daquele pequeno trecho escondido entre a areia e a calçada em frente à escadaria que dá acesso ao mar.

E foi ouvida, em francês, a expressão “immondice”, que em bom português soa à mesmíssima coisa.

Difícil foi explicar aos nossos visitantes que a Prefeitura do Recife, em parceria com a Rede Globo Nordeste, vêm insistentemente – nos últimos anos – se empenhado bastante na Campanha “PRAIA LIMPA”, tentando com algum sucesso, através do poder da mídia televisiva, conscientizar à população local, aos comerciantes e aos freqüentadores das praias da Região Metropolitana do Recife, que as poupem da feiúra irresponsável do lixo jogado à toa, ensacado ou não.

Mesmo assim, os visitantes têm a errada impressão de que nada é feito ou prevalece à omissão a este respeito, apesar de todas as explicações fornecidas.

Lamentável.

Então, entra em cena, a consciência crítica de cidadão que se sente responsável pelo destino de sua cidade.

Sentimento que foi mais uma vez despertado pelo fato de que algo não está dando certo.

Apesar de reconhecer o esforço da autoridade pública na limpeza diária da areia e das calçadas, e da iniciativa privada, por sua vez, colaborando com a campanha educativa durante o verão.

A comprovação de que alguma coisa precisa ser revista nas ações é o fato de que a cena abordada repete-se diariamente a cada final de tarde, quando – em qualquer trecho que se esteja ou se caminhe, a pessoa comum ou o turista – depara-se com o triste cenário no qual se tem a impressão, para alguns como eu, que aquilo não tem jeito.

Pesquisando por notícias na internet encontrei que, em agosto de 2009, a Prefeitura do Recife fez uma intervenção no comércio ambulante da Praia de Boa Viagem.

Ela ocorreu de forma bastante tumultuada, entretanto, teve um triste desfecho, principalmente para o turismo da cidade.

Na ocasião, o poder executivo tentou ordenar o comércio nas areias da praia com medidas não muito bem recebidas por parte dos comerciantes, que protestaram inclusive com bloqueios.

A Prefeitura recuou.

Cancelou o envio à Câmara de Vereadores do um projeto que regulamentava o comércio ambulante na orla dos bairros da Zona Sul, adiando-o por tempo indeterminado.

Esta atitude foi tomada, segundo os relatos da imprensa, depois que os próprios vereadores foram tomar explicações junto ao executivo e defender à parcela da população que os elegeram: tanto por parte daqueles que querem negociar, quanto por alguns da opinião pública que fizeram ecos e que “acham digno” o trabalho dos ambulantes e barraqueiros, e ainda por cima “não vêem problema algum na atividade”.

E ainda houve a intermediação do Ministério Público na defesa dos ambulantes.

Então, como consequencia da não adoção de medidas necessárias ao ordenamento do comércio nas praias (que eram um tanto quanto impopulares), o problema caiu no esquecimento.

Pois, ao raiar de cada dia surge um novo dilema ou uma nova denuncia que, como esta, se acumula na agenda da cidade.

Desde então, os ambulantes têm vivido uma espécie de “pax romana” – expressão utilizada para designar a paz estabelecida pelo Antigo Império Romano com outros povos conquistados, afim de que fosse mantida à ordem pública e a manutenção do império.

Entretanto, essa “não atitude” por parte do Executivo e do Legislativo Municipal tem um preço.

Alguns podem perguntar-se, qual a co-relação que as duas informações possuem: A Campanha Praia Limpa e o Projeto de Lei Municipal engavetado?

Acredite, toda.

Pois os dois poderiam trabalhar em conjunto para a solução desse descaso diário.

Assim, fica como sugestão, que o primeiro passo a ser dado para uma possível solução seja encarar o desengavetamento da medida por parte da PCR (feitos ou não os devidos reajustes impopulares) e o envio imediato para o debate democrático na Câmara de Vereadores, mesmo que tais medidas sejam mais rigorosas e um tanto quanto amargas, impopulares e desfaçam o estado de “pax romana” dominante atualmente entre o poder público e os ambulantes da praia.

Mas elas fazem-se necessárias para o bem da atividade turística e da população em geral.

E então, na sequencia, que os agentes já emparceirados – a Mídia e o Poder Público Municipal – exerçam cada vez melhor os seus poderes, revendo e melhorando as ações já implantadas e atuando cada vez mais em conjunto.

Podendo contar ainda com o auxilio luxuoso do Governo do Estado que vende a cidade como “Portão de Entrada” para os outros destinos turísticos.

Este pode parecer um problema pontual, mas que ao juntá-los todos os dias, lado a lado, causam danos à imagem da cidade – construída, nestes últimos anos, com muitas e caras campanhas de marketing na busca de turistas, no país e no exterior – e que são pagas pelos impostos dos recifenses e dos pernambucanos.

E em se mantendo a “não atitude”, acende-se nas mentes dos membros da sociedade mais consciente à figura simbólica da omissão, que é traduzida pela reticência, a qual tem de ser desfeita para que possamos partir para a solução de outros problemas mais graves que flagelam a nossa Recife.

Pedro Aníbal de Brito – Turismólogo e estudante do MBA em Marketing.