Fábio Góis, do site Congresso em Foco Empunhadas por um psicopata, duas armas compradas ilegalmente provocaram uma chacina em uma escola municipal de Realengo, zona oeste do Rio de Janeiro, no último dia 7.
Os revólveres foram manuseados pelo ex-aluno Wellington Menezes (23), que não tinha porte de arma e foi diagnosticado como esquizofrênico.
O episódio resultou em 12 mortes, entre crianças e adolescentes, além de vários feridos.
Naquele dia, a comoção nacional que se seguiu à tragédia refletiu no Congresso, e suscitou as mais diversas reações.
Entre elas, o projeto de decreto legislativo que, anunciado no início da semana passada e encabeçado pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), visa promover um novo plebiscito sobre a comercialização de armas de fogo (o assunto já foi tema de um plebiscito e, na ocasião, os eleitores disseram ’não’ à proposta de desarmamento).
O deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) é um membro declarado do que se convencionou chamar de “bancada da bala”, parlamentares que tiveram suas campanhas financiadas por indústrias e fabricantes de armamento e munição.
Onyx tem posse e porte de arma, eventualmente anda armado, e defende claramente o direito que, na sua avaliação, as pessoas devem ter de usar armas para a sua defesa.
Para Onyx, retornar a um tema que já foi objeto de apreciação da sociedade por conta da tragédia de Realengo é algo “oportunista e hipócrita”. “É muito importante a gente saber diferenciar o que é controle de armas e o que é controle de criminalidade.
Quem tem a responsabilidade de olhar para o país inteiro, que é o Parlamento brasileiro, não pode misturar esses conceitos de forma oportunista, demagógica e hipócrita”, atacou Onyx, em entrevista concedida ao Congresso em Foco na última terça-feira (12). “A iniciativa do senador Sarney é de uma irresponsabilidade brutal, de alguém que não entende nada e não estudou, não procura ler, não procura se informar.” Para Onyx, o problema não é a comercialização das armas legais, e sim as falhas nas políticas de segurança pública, que facilitam, entre outros elementos de criminalidade, o mercado clandestino de armamento.
Ele diz que o país tem uma “excelente e rigorosa” legislação sobre posse e porte de armas e munições.
E mais um plebiscito, considera, seria desperdício de dinheiro e motivo de chacota mundial. “O país gastou R$ 600 milhões para perguntar para a população se ela era a favor ou contra a proibição do comércio de armas e munições.
Qual foi a resposta da população?
Não. 64% da população votaram não.
Um país como o Brasil, em que se gasta mais com publicidade e propaganda do que com segurança, gastar, em cinco anos, R$ 1,2 bilhão para fazer a mesma pergunta?
Nós vamos ser ridicularizados no mundo todo!”, exclamou o deputado, lembrando que aumentaram os custos de um referendo como o que foi feito em 2005 – quando, segundo o Tribunal Superior Eleitoral, foram gatos R$ 250 milhões pelo governo. “O que tem de curioso nessa resposta?
Naquela data, 97% da população brasileira não tinham armas.
Apenas menos de 3% tinham armas registradas, legais.
Transcorrem-se cincos anos, e continua o mesmo cenário”, acrescenta o deputado, esclarecendo que sua intenção não é promover o armamento da população civil nem o comércio de armas, “até porque as indústrias brasileiras não têm mais do que 15%, 20% do seu faturamento no mercado interno; cerca de 80%, 90% é fora do Brasil”. “A minha luta é para manter o direito que eu quero ter, que a sociedade deve ter de poder escolher se quer ou não ter uma arma em casa.
Só isso.” Pás e revólveres Onyx diz não ver diferenças entre um revólver e uma pá.
Para ele e seus mais de 10 milhões de conterrâneos gaúchos, ambos são “instrumentos como outro qualquer”.
A questão, diz, é o uso que se faz dos “objetos inanimados”. “O liquidificador liga do nada?
A televisão liga do nada?
Não, é preciso alguém apertar um botão.
No caso de uma arma, alguém tem de pressionar o gatilho.
O problema não está no objeto, mas em quem o manuseia”, argumenta o deputado, que tem porte de arma desde o início da década de 1980, após uma invasão à casa de seu sogro, em Porto Alegre.
Na ocasião, um dos quatro filhos do deputado ainda era bebê de colo. “Eu pude sacar a minha arma, sustentar o agressor sem que ele me agredisse e sem que eu o agredisse.
Ele está vivo e eu também.
Agora, não sei se estaria falando contigo hoje se não estivesse com aquela arma na mão”, defende o deputado.
Em quase 30 minutos de entrevista, o deputado citou diversos números e estatísticas sobre o assunto, referentes ao Brasil e a outros países emblemáticos.
Descreveu o poder de fogo de algumas armas, falou sobre os testes “rigorosos” a que é submetido periodicamente para manter o direito de portá-las e usá-las.
Demonstrando conhecimento de causa, comprou briga com movimentos sociais como o Viva Rio, a quem acusa de manipular informações e até mentir sobre a relação entre armas de fogo e violência.
E, com campanha financiada por fabricantes de armamento em eleições anteriores, diz não ver conflito de interesses em defender deu ponto de vista – uma vez que, garante, só depois de manifestar seu posicionamento, durante o primeiro mandato de deputado federal (ele está no terceiro consecutivo), chamou a atenção das empresas do setor. “O Brasil hoje controla muito bem armas legais, e a gente não pode esquecer que o país é signatário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que diz em seu artigo 3º: ‘São direitos da pessoa humana a vida, a liberdade e a defesa pessoal’. É textual a palavra.
O que quer José Sarney, de maneira oportunista e hipócrita, é impedir que o Brasil continue honrando talvez um dos mais importantes tratados dos quais é signatário.
Ao tentar revogar artificialmente, e ao tentar negar aquilo que a população já disse”, criticou Onyx.
Por ironia, no momento da entrevista, o Senado votava a chamada MP do Trem-Bala, trocadilho que seria cômico se o momento não fosse trágico. “Dinheiro pra botar no trem-bala, tem.
Já pra botar na segurança…” Leia íntegra aqui