Do Blog Poder Online, do iG Coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e responsável pela relação do movimento com o governo, José Batista de Oliveira nega que o Bolsa Família tenha sido um dos fatores que levaram à redução do número de acampamentos de sem terra, como afirmou o líder João Pedro Stédile, abrindo uma polêmica na organização.
Nesta entrevista, por email, ao Poder Online, ele afirma que o efeito do programa social foi justamente o contrário: “Sem perspectiva de conquistar a terra, as famílias buscam alternativas para a sobrevivência.
O Bolsa Família é um elemento pontual, que em determinadas regiões contribui com a mobilização do movimento”. À espera de um encontro com a presidenta Dilma Rousseff, ele diz que o movimento já fez mais de 70 ocupações em mais de vinte estados para marcar a Jornada Nacional de Lutas por Reforma Agrária, o chamado Abril Vermelho.
E garante que, até o fim do mês, o movimento vai intensificar suas ações.
Poder Online – O MST deve intensificar as ocupações para pressionar o governo?
João Batista de Oliveira - Já fizemos atividades em todos os estados onde estamos organizados em defesa da Reforma Agrária, como ocupações de terras, protestos no Incra e secretaria de agriculturas, marchas, audiências públicas e distribuição de alimentos sem agrotóxicos.
Mais de 70 latifúndios foram ocupados, e a jornada segue até o final do mês.
O 17 de Abril é dia nacional de luta pela reforma agrária, assinado em decreto pelo Fernando Henrique, que se estende pelo mês inteiro, com lutas do conjunto do movimento camponês pela reforma agrária e contra a impunidade do latifúndio e do agronegócio.
Poder Online – João Pedro Stédile avaliou que 2010 foi o pior ano para a reforma agrária e apontou o Bolsa Família como um dos fatores que levaram à redução do número de acampamentos.
Concorda?
João Batista de Oliveira - O motivo central para a diminuição do número de famílias acampadas é a lentidão do processo de criação de assentamentos.
Sem perspectiva de conquistar a terra, as famílias buscam alternativas para a sobrevivência.
No entanto, elas continuam querendo entrar em um projeto de assentamento e vão voltar para os acampamentos se a reforma agrária avançar.
O Bolsa Família é um elemento pontual, que em determinadas regiões contribui com a mobilização do Movimento.
Em anos eleitorais, todos os órgãos públicos trabalham em velocidade mais reduzida.
No caso da Reforma Agrária, que já anda devagar, a situação ficou pior ainda.
Poder Online – Quais são as reivindicações do movimento para 2011?
João Batista de Oliveira - O governo precisa resolver a situação das famílias acampadas.
Algumas estão há mais de cinco anos vivendo embaixo da lona preta.
Por isso, cobramos que o governo crie um plano emergencial para assentar as 100 mil famílias acampadas até o final deste ano.
Queremos também que o governo construa um plano de reforma agrária, com metas anuais até 2014.
A partir disso, deve construir as condições orçamentárias do Incra para fazer a obtenção de terras, fazer as desapropriações e criar os assentamentos.
Precisamos também de políticas do governo para desenvolver os assentamentos mais novos, com política de crédito agrícola e assistência técnica, além de medidas para a construção de casas, posto de saúde, escolas, estradas para viabilizar a produção.
Poder Online – Durante seu discurso de posse no Incra, Celso Lacerda afirmou que o governo qualificará a gestão do Incra “nos padrões da iniciativa privada, com gasto cada vez menor e produtividade cada vez maior”.
O orçamento para reforma agrária caiu de R$ 600 milhões para R$ 380 milhões.
Como o movimento vê esse corte?
João Batista de Oliveira - Em vez de cortar o orçamento das áreas sociais, o governo tinha que cortar o superávit primário e a taxa de juros do Banco Central, que só remuneram o capital financeiro e os bancos.
Um das nossas reivindicações é a recomposição do orçamento do Incra.
Se o governo quer enfrentar o problema da pobreza, precisa fazer a reforma agrária.
Para isso, tem que disponibilizar recursos necessários para fazer as desapropriações e assentar as famílias acampadas, que vivem numa situação muito difícil anos e anos na beira das estradas.
Em relação ao Celso Lacerda, é um homem sério, honesto e tecnicamente preparado.
Esperamos que ele consiga fazer do Incra um órgão ágil e eficiente para a realização da reforma agrária.
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