Foto: Masao Goto Filho Wilson Aquino, da revista Istoé Ela personifica a maior fraude já ocorrida no Brasil contra a Previdência Social.
Na década de 1980, Jorgina Maria de Freitas Fernandes, hoje com 61 anos, esteve à frente de uma quadrilha formada por 25 pessoas – entre juízes, advogados, procuradores do INSS, contadores e peritos – para desviar R$ 1,2 bilhão dos cofres públicos, em valor atualizado.
Em entrevista exclusiva à ISTOÉ, a primeira após 12 anos presa, ela reverte a situação e agora acusa a Previdência de promover nova fraude.
Só que, desta vez, Jorgina se coloca na outra ponta do esquema, do lado de quem é roubado.
Segundo ela, os 60 imóveis que adquiriu com o dinheiro do golpe e que foram sequestrados pela Justiça para ressarcir a Previdência serão leiloados a preço de banana por algum motivo obscuro. “Eles me chamam de fraudadora e quem está fraudando agora?”, questiona.
Três advogados contratados por ela brigam na Justiça para suspender o leilão do primeiro lote de seus imóveis.
São cinco terrenos em Búzios, no valor de R$ 1,2 milhão, e um casarão histórico em Petrópolis, ex-residência do presidente Eurico Gaspar Dutra, que a Previdência avaliou em R$ 800 mil.
No entanto, segundo especialistas consultados por ISTOÉ, só o casarão de 490 metros quadrados, construído num terreno de dez mil metros quadrados, vale mais de R$ 5milhões. “Estão lesando a Previdência do mesmo jeito”, acusa Jorgina.
As barbadas imobiliárias da Previdência são tão evidentes quanto os interesses de Jorgina.
Embora ela se apresente como paladina contra novos golpes, na verdade briga para reduzir sua enorme dívida com o erário público.
Jorgina precisa de dinheiro, muito dinheiro.
No ano passado, foi condenada a devolver R$ 200 milhões aos cofres públicos.
A esperança de Jorgina e de seus advogados, que trabalham em contrato de risco, é que, ao final dos leilões, ainda sobre alguma quantia para ela.
O patrimônio imobiliário formado por Jorgina com dinheiro dos contribuintes brasileiros é valioso.
Entre os 60 imóveis, há, por exemplo, dois apartamentos na Avenida Delfim Moreira, de frente para a magnífica praia do Leblon, no Rio, o mais caro endereço do Brasil.
Em 2003, cada um deles foi avaliado pela Previdência em apenas R$ 1,7 milhão.
De lá para cá, porém, houve uma explosão de preços no mercado imobiliário carioca.
Hoje, um apartamento como o de Jorgina, naquela cobiçada localização, está avaliado entre R$ 10 milhões e R$ 15 milhões.
Somente um deles, portanto, já superaria com folga a avaliação total de R$ 11 milhões, feita para o conjunto dos 60 bens de Jorgina que irão a leilão. “Os valores são de 2003, por isso nós já pedimos a reavaliação”, esclarece o procurador da República Marcos Couto, chefe do escritório regional da Procuradoria no Rio.
Jorgina acha que está sendo passada para trás.
Ela defende que a Previdência venda diretamente os bens no mercado e questiona a idoneidade dos leilões. “Na primeira praça (primeiro leilão), se o imóvel não for arrematado, vai para a segunda e, aí, sai por qualquer preço.
Isso aqui é Brasil…
Existem grupos especializados em arrematar as coisas de qualquer maneira, com preço irrisório”, disse ela na entrevista que concedeu à ISTOÉ na sexta-feira 8.
Sua especulação se confirmou: no primeiro leilão de seis imóveis, realizado na quarta-feira 13, no Tribunal de Justiça do Rio, não apareceu sequer um comprador.
A leiloeira pública Norma Maria Machado disse que realizará novo leilão, no dia 27 de abril, e os lances começarão com 60% do valor de avaliação.
Desta maneira, o histórico casarão de dois andares em Petrópolis, onde Jorgina promovia grandes festas antes de ser condenada, poderá ser arrematado por meros R$ 480 mil, embora seja cobiçado por corretores por R$ 5 milhões.
Filha de um militar, mais velha de uma família de sete irmãos, Jorgina começou a trabalhar aos 16 anos.
Formou-se em direito pela Universidade Candido Mendes e transformou-se em uma bem-sucedida advogada, especializada em acidentes de trabalho, com escritório na Baixada Fluminense, zona norte do Rio, com cerca de oito mil clientes.
Foi ali que ela percebeu uma bagunça no Ministério do Trabalho da qual se aproveitaria: a procrastinação nos pagamentos das indenizações de acidentes de trabalho podia gerar correção dupla no momento da liquidação da dívida. “O governo levava 15 anos para pagar uma sentença de acidente de trabalho e isso favoreceu a fraude”, diz ela.
Devido à hiperinflação, que chegava a 80% ao mês, as atualizações com juros e correção monetária complicavam as contas das indenizações e abriam frestas para o roubo.
Leia íntegra aqui