Juliana Castro e Rafaela Santos, em O Globo A deputada federal Rose de Freitas já não era uma recém-chegada na política quando, em 1988, participou da fundação do PSDB.

Mas foi no aconchego do ninho tucano que ela cresceu politicamente.

Em 2003, depois de 15 anos no partido, resolveu “bater asas e voar”.

E logo para o lado do governo Lula, rival histórico do partido.

A mudança para o PMDB desde então foi o passaporte para que, nesta quarta-feira, Rose fizesse história na Câmara, como a primeira mulher a assumir a presidência da Casa, mesmo que interinamente.

Mineira de nascimento e capixaba por opção, Rose foi eleita deputada com 96.454 votos na eleição do ano passado.

Este ano, foi escolhida vice-presidente da Câmara, graças à aliança entre peemedebistas e petistas.

Com isso, tornou-se a primeira mulher a integrar como titular a direção da Casa.

Aos 62 anos, conseguiu a indicação após reuniões e mais reuniões da base aliada para repartir os cargos da Mesa Diretora.

Por isso, enquanto o presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS), viaja em missão oficial à Espanha - a visita inclui uma passadinha no clássico entre Real Madrid e Barcelona junto com o filho, já que o colega Romário desistiu na véspera em razão de uma cirurgia no ombro -, a parlamentar assume o comando da Casa até domingo. - Tenho certeza absoluta de que nós, mulheres, somos mais observadas que os homens.

Temos que ter muito mais zelo em todos os gestos para que não dê margem a nenhuma segunda interpretação - diz Rose, com a voz firme de quem tenta se impor em meio a tantos engravatados.

A inspiração atual da deputada pode até ser a presidente Dilma Rousseff, por também ser mulher.

Mas, por muito tempo, o exemplo de Rose foi mesmo Fernando Henrique Cardoso.

Amiga do tucano desde os tempos da criação do PSDB, ela era tida por muitos como “a sombra” do ex-presidente durante boa parte do período em que ele esteve no poder.

Chegou, inclusive, a ser assessora da Presidência da República na gestão do amigo.

Se Fernando Henrique precisava mandar recados a certos parlamentares, era por meio dela que o fazia.

Se necessitava sondar candidatos a ministros, também.

E, caso um parlamentar desejasse uma audiência reservada com o então presidente, Rose era a senha para entrar na cobiçada agenda alternativa do Palácio da Alvorada. " Porque apoio agora o governo Dilma, não tenho que romper com Fernando Henrique de maneira nenhuma " - Apoiava Fernando Henrique porque era um momento importante.

A estabilidade da economia veio desta época - declara Rose, que disse não ter visto ou conversado com o amigo ultimamente. - Porque apoio agora o governo Dilma, não tenho que romper com Fernando Henrique de maneira nenhuma - completa.

Nestes cinco dias em que presidirá a Câmara, Rose deverá provar que os elogios de alguns parlamentares podem ser perpetuados pelos demais colegas: - É uma pessoa gentil, afirmativa e que não deixa de ouvir as opiniões.

A deputada também nunca oculta suas próprias opiniões, e eu acho que isso é muito positivo - disse o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ).

Eleito pelo Espírito Santo bem como Rose, Carlos Humberto Mannato (PDT) é só elogios à parlamentar: - Ela segue à risca o regimento, sem ser autoritária.

Tem pulso forte: para ela um minuto é um minuto.

Se não tiver determinação, foge do controle.

Em quatro anos, Rose de Freitas triplicou seus bens Assim que foi eleita a nova Mesa Diretora da Câmara, O GLOBO fez um levantamento sobre os bens daqueles que foram escolhidos para os cargos.

Nove dos 11 componentes tiveram uma significativa evolução patrimonial.

Rose, por sua vez, foi quem apresentou a maior variação de patrimônio.

Os bens da parlamentar somavam nada menos que R$ 972 mil no ano passado, de acordo com informações apresentadas por ela ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Isso representa mais que o triplo do que a peemedebista havia declarado em 2006, quando informou à Justiça Eleitoral ter um patrimônio de R$ 303 mil. À época, Rose justificou-se dizendo que, a cada declaração anual de Imposto de Renda, o valor de seus imóveis era atualizado.

A manobra, no entanto, é proibida pela Receita Federal porque implica em sonegação fiscal no momento em que o bem é vendido.