Por Antônio Rodrigues Como médico tenho assistido durante estes 28 anos a degradação, a deterioração e a falta de respeito com a saúde pública.

Outro dia li num jornal do CFM, um artigo onde um colega, no qual se refere a uma análise real por várias pessoas de classe social diferente, na qual nenhuma delas encontrou citação que o médico tenha de trabalhar de graça.

Infelizmente, só não foi incluído neste rol nenhum político.

Nós que trabalhamos para o SUS, trabalhamos mais do que de graça.

Faço parte de um grupo de ortopedistas que, há mais de um ano tenta melhorar a situação dos honorários médicos pagos pelas cirurgias realizadas pelo sistema.

Levantamento feito mensalmente mostra que cada procedimento cirúrgico não ultrapassa os R$ 35,00.

Isto é simplesmente aviltante, desmoralizante, para o médico que passou seis anos na faculdade, com mais três anos de residência e tem que se reciclar anualmente para não ficar à beira do caminho.

Porém, este preço que nos cabe, por procedimento cirúrgico, é valiosíssimo para nossos políticos que não mexem uma “palha” para melhorar esta situação degradante.

Será que o nosso paciente não vale mais que R$ 35,00?

Ou será este preço que nossos políticos acham que valemos?

Recentemente, ouvi uma colega médica, prestadora de serviços de uma UPA, relatar o assédio moral praticado pela coordenadora da unidade saúde.

Isto é, exigia que a médica atendesse e almoçasse o mais rápido possível.

Tudo na pressão, na imperfeição.

Trata-se de uma imoralidade.

Nós médicos somos desrespeitados em todas as instâncias de nossas atividades.

Quem tem ou quer ter algum respeito fuja do SUS e dos serviços públicos.

E, se isto ocorrer, como ficará a população carente, dependente do SUS, lembrada apenas no período de eleições?

Senhor Presidente, senhores governadores, autoridades em geral, nós também como estes desassistidos dos SUS, somos humanos, temos família, pagamos uma carga tributária injusta, elevada, precisamos educar e criar nossos filhos com dignidade.

Temos esse direito.

Será que não seria a hora de no mínimo sermos respeitados?

A tabela SUS desmoraliza o médico e o paciente.

O que o SUS paga não dá nem para morrer. É preciso vergonha! É preciso respeito! É preciso acordar para a verdade e para a realidade deste País.

Resta à esperança.

Amanhã, talvez, um dia quem sabe, haja em algum rincão deste Brasil um representante da classe médica que pense como médico, viva como médico sofra como médico e exerça seu cargo político como médico.

E lembre-se dos anos que sofreu nas garras dos carcarás predadores da saúde pública.

Antônio Rodrigues é médico