Por Alexandrina Sobreira de Moura Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco Professora da UFPE Especial para o Blog de Jamildo Em tempo de mudanças, costuma-se recriar instituições, desconsiderando o seu legado.
O Instituto Joaquim Nabuco, fundado por Gilberto Freyre em 49, criou, nos anos 60, as bases para estudos pioneiros como “Rios da Carnaúba” e “Rios do Açúcar”.
Pesquisadores como Gilberto Osório, Mário Lacerda, Manoel C. de Andrade e Rachel Caldas anteciparam análises dos espaços delimitados pelas bacias hidrográficas.
Essa dimensão constitui hoje parâmetro fundamental para a Política Nacional de Recursos Hídricos.
Nos anos 80, é criado o Instituto de Pesquisas Sociais que demarcou sua atuação no âmbito das Ciências Sociais Aplicadas.
Ao tempo em que dava continuidade a uma agenda de pesquisa social, com trabalhos como a situação dos boias-frias ou a construção dos lagos de Sobradinho e Itaparica, o INPSO ingressa no debate acadêmico.
Sediou o Encontro Nordeste de Ciências Sociais e torna-se sócio fundador, da Associação Nacional de Pós Graduação em Pesquisa Social.
Criou o Departamento de Ciência Política que estimulou a pós-graduação de seus pesquisadores e o intercâmbio de professores, entre eles Guillermo O´Donnel, Thomas Skidmore, Boaventura Santos e Ernesto Laclau.
Foram introduzidos temas sobre gênero, desenvolvimento urbano e estudos populacionais que produziram trabalhos de referência, de que é exemplo o estudo sobre Migração para Manaus.
Esses enfoques se alinharam com o objetivo da Fundação MacArthur (EUA), do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e do Fundo das Nações Unidas para População, que convidaram a Fundaj para realização de projetos.
Recursos foram captados também pelos pesquisadores junto a Fundação Ford, Fundação Interamericana, Banco Mundial e o Instituto de Pesquisas de Desenvolvimento do Canadá.
No Brasil, projetos continuam com o apoio do CNPq, da Facepe e do Ipea, sem esquecer as inúmeras parcerias com a Sudene.
O INPSO ampliou sua articulação por meio de eventos, como o IV Congresso Afro-brasileiro, a Assembléia Geral do Conselho Latino Americano de Ciências Sociais- Clacso, o Seminário Internacional sobre Transição Democrática.
Difícil escapar da dicotomia entre perdase ganhos, ao resgatar uma trajetória de 60 anos.
Por um lado, foi lamentável a extinção da Escola de Governo, canal importante para aliar pesquisa à formação de gestores.
Por outro, ressalta-se o ingresso por concurso público de 30 pesquisadores, ampliando a capacidade intelectual e institucional da Fundaj.
Entretanto, nem sempre o desenlace das atividades coincide com o programado.
A partir de 2002, novas perspectivas se abriram com maiores dotações de recursos, gerando efeitos paradoxais: ao mesmo tempo em que se garantiu a pluralidade de projetos, identificou-se fragmentação temática e restrição da abordagem regional.
O expressivo aporte financeiro não se refletiu no aumento da produtividade; ainda que se deva mencionar realizações importantes como: o 14º.
Encontro de Ciências Sociais do Norte Nordeste; 40 Anos do Golpe 64; 200 Anos da Imprensa no Brasil; a Semana Brasil-França e a comemoração do Centenário de Joaquim Nabuco.
Em tempos de mudança, é preciso valorizar a pesquisa social da Fundaj, mas também indagar-se em que patamar os resultados se situam.
Parâmetros de comparação com entidades afins importam para a demonstração de competências e correção de rumos.
Não se trata de defender um gerencialismo cujos padrões de avaliação impeçam a criatividade, mas de garantir, sobretudo, o compromisso com a governança pública.
Com certeza, a face do legado da pesquisa social da Fundaj não ficará perdida nos espelhos do passado.