Por Cláudia Beatriz É difícil entendermos o que ocorre hoje com a assistência materno-infantil, quando as mulheres cidadãs deste Estado vivem uma verdadeira via crucis para darem a luz aos seus filhos, realizam verdadeira peregrinação de serviço em serviço até encontrarem uma vaga; nem que sejam sentadas em cadeiras desconfortáveis, pois é isto que muitas vezes se tem a oferecer.
Compreender a carência de leitos e a superlotação dos serviços, com pré-parto, berçário e alojamento conjunto sem vagas, num momento de dor física, alegria e medo pela chegada do novo ser, num grande misto de sentimentos para a mulher e sua família é exigir demais.
Não raro nos deparamos com reações grosseiras e agressivas, como se o profissional que dá a assistência fosse responsável pela situação.
Dizer a estas mulheres que elas irão ser transferidas para outros serviços é doloroso para todos.
Já pensou ter que entrar numa ambulância, na maioria das vezes em precárias condições de transporte, para se deslocarem para Vitória, Moreno, Goiana, Ipojuca, Arcoverde…?
Quando estas mulheres moram próximas às maternidades que procuram! É uma realidade caótica e assustadora que hoje se vivência no sistema regulador Materno-infantil.
Gestantes que ao chegarem à maternidade se imaginam em ambiente seguro para terem seus filhos, desconhecem o risco da superlotação como o aumento do índice de infecção puerperal e neonatal, o déficit de material para adequada assistência ao parto, como campos estéreis e arsenal cirúrgico, além de lençóis e batas, o déficit de incubadoras e fonte de oxigênio (halos e CPAP) para os RNS que vão para berçário, e também a carência de profissionais tendo em vista que o dimensionamento da equipe de saúde é feito na capacidade instalada do serviço, sem se contar que teríamos pacientes internadas em cadeiras, em sala de recuperação pós anestésica, centro cirúrgico, enfim.
Tratar da gestante e do produto de sua concepção é tratar de pacientes que de alguma forma não se encontram doentes, salvo em situações especificas de patologias, mas de uma forma geral encontram-se no pleno exercício de sua saúde, condição de procriação.
Em qualquer das situações se fazem necessário cuidados e atenção especiais.
Não se pode negligenciar este complexo de assistência, é urgente a necessidade de uma rede hierarquizada e qualificada, onde se possa ter a tranquilidade de estar trabalhando com segurança em prol da sociedade, sem que vivenciemos momentos de STRESS ao ter que se fazer escolhas: Quem fica internada?
Quem é transferida?
Quem vai para incubadora?
Priorizar o que já é prioridade.
Não nos cabe fazer a escolha de Sofia.
Não se tem fábrica de sequelados só na emergência de traumas, mas também nas maternidades.
Muitos profissionais têm adoecido e abandonado os plantões por não aguentarem conviver com tamanho desgaste físico e emocional. É lamentável que muito se gaste com grandes eventos como Carnaval, São João e pouco se invista na saúde, não se pode negar os investimentos que foram feitos, porém poderia ter sido feito mais e melhor, para garantir ambientes mais dignos, mais seguros e humanizados para as equipes de saúde que estão nas maternidades e as gestantes que lá chegam.
PS fo Blog: Cláudia Beatriz é médica