Por Bruno Paes Manso, no estadao.com.br Uma ligação para o telefone 190 do Centro de Operações da Polícia Militar (Copom) em março deste ano mostra uma execução em tempo real.
A testemunha permanece sob proteção policial.
Ela ligou para a PM e descreveu o crime, que foi gravado. “Olha, eu estou no Cemitério das Palmeiras, em Ferraz de Vasconcelos e a Polícia Militar acabou de entrar com uma viatura aqui dentro do cemitério, com uma pessoa dentro do carro, tirou essa pessoa do carro e deu um tiro.
Eu estou aqui do lado da sepultura do meu pai.” De onde presenciou o assassinato, a denunciante não conseguia ver a placa nem o prefixo da viatura policial.
Enquanto falava com o Copom, ela teve sangue frio para esperar os policiais fecharem a viatura e passar em frente dela para que ela relatasse os dados ao Copom. “Espera só um pouquinho porque eles vão passar por mim agora.
Espero que não me matem também.
A placa é DJM 0451, o prefixo é 29.411, M 29.411.” » OUÇA A ÍNTEGRA DA CONVERSA DA TESTEMUNHA COM A POLÍCIA Em seguida, o policial autor da execução percebeu a presença da testemunha, parou a viatura e foi em direção a ela.
Corajosa, a mulher se antecipou e foi falar com o policial. “Tem um PM vindo na nossa direção.
Oi, desculpa, senhor, o senhor que estava naquela viatura?
O senhor que acertou o disparo ali?
Foi o senhor que tirou a pessoa de dentro?
Estava próximo de onde estávamos.
Eu estou falando com a Polícia Militar”.
Ainda durante a ligação, o policial fala à testemunha que estava socorrendo a vítima, conversa que também foi gravada.
E tenta levar a testemunha para a delegacia. “Estava socorrendo?
Meu senhor, olhe bem para a minha cara.
Eu não vou (para a delegacia).
Ele falou que estava socorrendo. É mentira. É mentira, senhor. É mentira.
Eu não quero conversar com o senhor.
E o senhor tem a consciência do que o senhor faz”.
Os policiais militares acusados de execução registram um boletim de ocorrência de roubo seguido de resistência e morte.
Alegavam que o homem morto havia resistido à prisão.
Mas a iniciativa da testemunha fez a versão dos policiais cair por terra.
Dois PMs estão presos no Romão Gomes.
A Polícia Militar manteve o caso sob sigilo para preservar as testemunhas.