Regina Alvarez, em O Globo Durante a campanha, Dilma Rousseff prometeu que não faria ajuste fiscal “em hipótese alguma” e classificou de factóides as notícias de que promoveria corte nas despesas do Orçamento já no começo de sua gestão.

No combate à inflação, Dilma adotou medidas que os petistas vinculavam à oposição no auge da campanha eleitoral: corte nos gastos públicos, suspensão dos concursos e nomeações.

O estilo firme e pragmático da presidente na tomada de decisões é elogiado por analistas, mas há dúvidas em relação à condução da política econômica e à capacidade do governo de controlar a inflação.

No começo de fevereiro, a presidente determinou um corte de R$ 50 bilhões no Orçamento da União, que atingiu, inclusive, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Esse receituário amargo decorre, em boa parte, da farra de gastos do governo Lula no ano eleitoral.

A combinação de demanda aquecida - pelos gastos do setor público, além do aumento da renda e emprego - com o choque nos preços das commodities (petróleo, minério de ferro, açúcar e soja) no mercado externo afetou os preços internos e as expectativas para a inflação futura, herança que Dilma terá que administrar.

Divergências não são toleradas Todos os sinais são de que a presidente comanda a política econômica com mão de ferro e não tolera divergências.

Recentemente, Dilma usou um jornal especializado para defender a política do Banco Central no combate à inflação.

Mas não convenceu ainda o mercado, que cobra uma política mais arrojada e um choque de juros a curto prazo.

O economista Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do BC e atual chefe do Departamento Econômico da Confederação Nacional do Comércio (CNC), vê com preocupação a escalada da inflação, mas acha que o governo Dilma começou bem, sem grandes surpresas.

Falta, na opinião do economista, enxergar como a economia vai ficar mais à frente, já que o país continua a surfar na onda favorável que começou após a crise de 2009: - Não há certeza da correção do rumo, não se tem histórico para saber o timing das medidas adotadas pelo Banco Central, quando produzirão efeitos.

Ainda estamos vivendo em mar calmo, mas precisamos nos preparar para um mar revolto mais à frente - afirma o ex-diretor do BC.

Na opinião do economista Raul Velloso, especialista em contas públicas, o destaque positivo do governo Dilma é a política adotada para o setor aeroportuário, com promessa de uma gestão profissional completamente diferente da anterior: - A grande novidade nestes cem dias é a mudança na área aeroportuária.

Nota 10.

Para quem não estava esperando nada, ver isso é um grande negócio - afirma.