Por Jamildo Melo, direto da borda do Lago de Itaparica O município de Itacuruba, no sertão do São Francisco, ganhou notoriedade recentemente por ter sido apontada, em um estudo da Eletronuclear, como a primeira opção para a localização da central nuclear que o governo Federal planeja implantar na região Nordeste.

Antes, era conhecida apenas pela produção de tilápias, aproveitando o lago criado com a represa de Itaparica.

A obra federal acabou boa parte das terras agriculturáveis do lugar.

Pior do que isso, o desterro dos empreendedores, para cidades vizinhas.

O lago de Itaparica tem capacidade de produção de mais de 200 mil toneladas de pescados por ano.

Em Itacuruba, já estão operando grandes grupos como Pesca Nova.

Só essa empresa gera cerca de 600 empregos, com o beneficiamento de pescados no local.

Eles já fazem 100 toneladas por mês, mas quando o projeto estiver concluído, serão 30 toneladas por dia, com a entrada em operação da unidade de beneficiamento em fase de licenciamento.

A Netuno, que acabou ficando do outro lado do São Francisco, na Bahia, tem planos de colocar uma planta na cidade.

Outras empresas, como Tilápias do Agreste, passam por expansão, enquanto Tilápias de Itacuruba, de Salvador, chega para operar 180 tanques-rede.

Um dos novos empreendedores a apostar ali é o ex-vice-governador Roberto Fontes.

Ele deve investir cerca de R$ 3 a R$ 4 milhões na produção de peixes.

Os tanques-rede já chegaram e estão sendo montados.

A inflação de mão de obra na atividade já é real.

Não se encontra prático em psicultura, cujos salários podem variar de R$ 650 até R$ 1,5 mil. “Quando eu assumi, o desemprego era de 70% da população.

Hoje, se procurar um pedreiro aqui, não encontra”, diz o prefeito Romero Magalhães, do PSB.

Aposta na avicultura Com a viabilização da ferrovia transnordestina, por exemplo, o município agora aposta alto na criação de uma base para a avicultura industrial.

A estrada de ferro pode trazer o milho e a soja para as aves, uma vez que já há água em abundância para alimentar as aves.

O município está situado a 150 quilômetros de Salgueiro.

Com o bolsa família, o consumo de carne de frango cresceu 120%.

O prefeito de Itacuruba, Romero Magalhães, revela que o empresário Marcos Galvão, dono da empresa Frango Sertanejo, já comprou uma área no município.

Caso a iniciativa dê resultado, será uma boa resposta prática aos assentamentos da Chesf, que consomem milhões de reais todos os anos e são conhecidos por sua ineficiência. “A cadeia da avicultura é bem consolidada e pode nos dar uma boa assistência técnica.

Já temos a Aquicultura industrial e temos que aproveitar bem as áreas que não são agriculturáveis”, explica o socialista.

Ajuste nas contas Na área da gestão financeira, como é empresário, Romero Magalhães não teve problemas em realizar um amplo ajuste fiscal, com o afastamento de cerca de 200 funcionários.

Os cortes foram feitos de forma progressiva, não se deu de uma vez.

Hoje, são cerca de 480 funcionários, entre efetivos, contratados e comissionados.

A gestão tem um índice de comprometimento da receita mais baixo da região.

Enquanto o limite prudencial é de 54% das receitas correntes líquidas, por lá gasta-se apenas 40% com a folha de pessoal.

O balanço do ano passado mostra um superávit de R$ 1,5 milhão em caixa.

Por conta deste colchão financeiro e da responsabilidade fiscal, há um ano e meio, a gestão é uma das poucas da região que paga os salários no próprio mês.

No entanto, o dinheiro oficial também ajudou a turbinar a economia local.

Funasa, Incra e Caixa repassaram recursos, para a construção de habitação popular.

Itacuruba orgulha-se de não ter mais favelas.

Já foram construídas 600 casas.

Neste mês, será dada a ordem de serviço de mais 30 casas. “Mais de três milhões de tijolos já foram trazidos para a cidade.

E eu nem comecei a brincar com o PAC”, brinca o prefeito, referindo-se às obras de saneamento previstas em compensação pelas obras da transposição das águas do São Francisco.

Educação Neste semestre, o prefeito Romero Magalhães promete colocar todo o ensino fundamental em tempo integral. “Não fiz ainda isto por falta de espaço”, diz.

Outra promessa é tirar todos os contratados da educação e torná-los efetivos.

No ano passado, um concurso público foi realizado, com 178 vagas.

Quem cuida da área é o professor Geraldo Maranhão, ex-diretor do São Bento de Olinda.

Energia Nuclear Embora a maioria das pessoas tenha tomado conhecimento do nome da cidade depois da indicação da Eletronuclear, desde o ano passado a prefeitura de Itacuruba trabalha no projeto, meio na surdina.

O prefeito Romero Magalhães enviou um projeto de lei para a Câmara Municipal criando uma zona especial para a implantação de projetos e pesquisas em energia renováveis.

Assim, desde maio do ano passado, a destinação do uso do solo é definida por lei própria naquelas bandas.

Sobre o projeto Nuclear, a gestão prefere não falar nada por enquanto, aguardando a definião do governo Federal.

O número mais novo do jornal oficial da gestão dedica duas linhas ao tema, quase caindo da página.

Fim das filas na porta da prefeitura Romero conta que desde o começo de sua gestão ele sempre se preocupava com a grande fila de pessoas desempregadas na porta da prefeitura.

Nas pesquisas, as pessoas citavam o emprego em primeiro lugar entre as maiores preocupações.

Hoje, em comparação e curiosamente, a primeira reclamação do povo do lugar é calçamento.

Como começou a vida plantando tomate, na roça, Romero recorreu à empresa Palmeiron, do grupo Asa, em 2005.

Com um contrato pequeno que depois foi crescendo, a agricultura foi retomada, com o tomate e o milho doce. “Tivemos que buscar trabalhadores em floresta, na época da colheita.

Até 2005, a cidade não tinha nem correspondente bancário.

Os funcionários e os aposentados iam receber suas economias em Floresta.

Inicialmente, com um correspondente bancário do Bradesco, a folha de salários começou a ser paga na cidade, ajudando a roda da economia a girar.

Depois, a Caixa também montou um post de serviço, evitando que as economias dos aposentados fossem gastar nas cidades vizinhas.

Outro pulo do gato que o prefeito deu foi com a feira da cidade.

Tradicionalmente realizada na segunda-feira, desde o tempo dos mascates, a realização da feira foi mudada por decreto, para os domingos.

O único dia em que os mercados não abrem.

Com a iniciativa, as sobras da agricultura de sobrevivência são levadas para a praça, girando a roda da economia também para os pequenos produtores. “Antes, não se tinha um supermercado.

Hoje temos até loja de construção e lavajato.

De uma frota de 30 carros, já temos mais de 200 carros.

Muitas famílias que abandonaram a cidade no passado hoje estão voltando”, observa o prefeito.

Romero Magalhães gosta de lembrar que, ao assumir, não encontrou um único computador no prédio da prefeitura, mas que hoje toda a cidade conta com acesso à internet por meio de um contrato em que uma empresa regional oferece serviço wireless.

São comprados três megabytes por mês, um deles serve à rede oficial, enquanto os outros dois dão suporte à internet grátis da população.

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