Jamil Chade, do Estadão O presidente da Fifa, Joseph Blatter, fez ontem uma constatação alarmante: três anos antes do Mundial de 2010, as obras e o planejamento da África do Sul estavam em um estágio mais avançado do que os preparativos do Brasil, no mesmo período que antecede a Copa de 2014.

Nesta segunda-feira, o dirigente mostrou que perdeu de vez a paciência com os políticos brasileiros e também dirigiu críticas ao presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, que teria a responsabilidade pelo planejamento.

Blatter ainda alerta que, da forma como caminham as obras, nem São Paulo nem Rio terão seus estádios prontos para a Copa das Confederações, em 2013.

O presidente da Fifa também afirmou que, diante dos atrasos, não pode nem sequer confirmar que a abertura do Mundial será em São Paulo. “A Copa é amanhã, mas os brasileiros acham que a Copa é depois de amanhã”, acusou.

Além de conversar com o Estado de forma detalhada sobre o Brasil, Blatter usou o encontro com alguns jornalistas internacionais, em Genebra, para lançar o alerta.

Há muitas indefinições sobre a realização da Copa de 2014 no Brasil.

Quando é que a Fifa vai tomar medidas?

Você acha mesmo que as indefinições vão terminar?

Qual é o problema?

Falta uma pressão maior por parte da CBF para garantir que as obras sejam feitas.

O futebol precisa pressionar mais para garantir esses resultados por parte das autoridades. É também uma guerra política entre governadores e prefeitos.

Mas de quem é a responsabilidade de garantir a realização da Copa e que as obras estejam prontas?

Esse é um assunto para a direção do futebol brasileiro.

O senhor não vai intervir?

Ainda não.

O momento crucial é julho, quando teremos o sorteio das Eliminatórias.

Até lá, todas as dúvidas terão de estar superadas.

Se não houver nada ocorrendo até julho, esse será o momento de pressão e intervenção de minha parte.

Como é que a organização da Copa atingiu ponto tão crítico?

Não sei.

A Copa é amanhã, mas os brasileiros pensam que é só depois de amanhã.

Não há dúvida de que vamos ao Brasil em 2014.

O País tem cinco títulos mundiais.

Mas em termos de preparação do evento ainda estamos esperando resultados.

A preparação não avança nada rápido.

Se formos comparar a África do Sul com o Brasil, três anos antes da Copa, há claramente um atraso do Brasil em relação ao estágio onde estavam os sul-africanos.

Evitamos dizer isso, mas esse é o fato.

Qual é o grau dos atrasos?

No ritmo que vamos, não haverá jogos da Copa das Confederações nem no Rio e nem em São Paulo.

Há ainda um debate entre políticos sobre onde deve ficar cada estádio e isso precisa ser superado.

E pode haver uma Copa das Confederações sem São Paulo e Rio?

Não seria nada bom, mas é possível.

A Copa das Confederações é um ensaio geral para a Copa do Mundo, então por que não em outras cidades?

Mas pelo menos a abertura da Copa do Mundo de 2014 em São Paulo está garantida?

Quem é que vai saber?

Eu não posso dizer isso ainda.

Mas o senhor não tem voz na decisão de onde será a abertura?

Eu tenho sim um voto.

Mas, por enquanto, há a administração da Fifa trabalhando com a CBF e contatos estão ocorrendo entre o secretário-geral da Fifa, Jerome Valcke, e Ricardo Teixeira.