Você já imaginou uma panela de pressão, sem bico de suspiro, com capacidade para 20 toneladas?

Só que processando lixo?

Pois é exatamente isto que parece o equipamento de autoclave usado na esterilização do lixo hospitalar pela empresa multinacional Aborgama, em suas operações no Rio de Janeiro.

Com o uso de vapor saturado, a tecnologia mata as bactérias patogênicas que estejam presentes no lixo hospitalar.

Todos os hospitais precisam fazer isto antes de descartar os resíduos de saúde em aterros controlados.

O auoclave é a mesma tecnologia que está sendo implantada em Pombos, a cerca de 60 quilômetros do Recife.

O Blog de Jamildo foi conhecer as operações in loco, na semana passada.

A empresa funciona bem no meio de um condomínio de empresas incubadas pela Fundação Bio Rio.

Ao lado, há uma alojação militar.

Do outro, uma fábrica de camisinhas.

Não há odor algum que lembre que ali se processa lixo.

Eles funcionam junto à universidade porque pesquisam como reduzir o tempo de esterelização de bactérias como prions, responsáveis pela mal da vaca louca. “Não há transformação química, é a mesma tecnologia que é usada nos hospitais, em menor escala, para esterelizar os instrumentos cirúrgicos, por exemplo”, diz Ronel Garmendia, diretor da empresa no Brasil.

Cada processo de esterelização leva cerca de 50 minutos, acoplado a uma caldeira que gera o vapor necessário.

O material a ser esterelizado precisa passar por uma temperatura de cerca de 154 graus centígrados, antes de ser resfriado e enviado a um aterro controlado.

A razão?

Trata-se de uma exigência legal, para funcionamento.

Isto porque existem bactérias (chamadas de termófilas) que resistem até 135 graus centígrados de temperatura.

No Rio de Janeiro, depois de tratado, o lixo que a Aborgama processa é levado para a CTR Nova Iguaçu, a mesma empresa que controla a CTR Candeias, em Jaboatão dos Guararapes.

No local, a capacidade de produção chega a 40 mil toneladas, mas a empresa opera com uma média de 10 toneladas por dia.

Uma diferença do mercado carioca para o local é que, lá, existem várias empresas coletando a produção dos hospitais.

Aqui, as empresas coletam diretamente junto aos hospitais.

Há cinco empresas operando no setor, com vários tipos de processo, como incineração, que envolve queima e liberação de gases para a atmosfera.

No Rio de Janeiro, a empresa Aborgama está montando uma divisão de transportes para diversificar a operação e transportar também os resíduos, não apenas tratá-los.

O diretor da Aborgama para o Brasil, Ronel Garmendia, diz que a intenção é operar em todos os estados do Nordeste. “Alagoas, Ceará e Piauí nós já começamos a fazer os projetos”.

A empresa começou a operar no Brasil em 2002, com a cidade de Porto Alegre. “Hoje, tratamos 90% do lixo hospitalar do país”, diz.

Em mais trinta dias, a Aborgama começa a operar em Sergipe, em parceria com a pernambucana Brascon. “Vamos levar o Estado ao primeiro mundo.

Lá, o que há é uma vala comum, onde eram jogados lixo comum com lixo hospitalar”, observa Waldemar Oliveira, sócio do projeto em Pernambuco e Sergipe.

Portos e aeroportos, que geram resíduos oriundos de fluxos internacionais, são outro campo de atuação.

Na cidade de Pombos, a chegada da empresa não se dá sem polêmica.

Na semana passada, o grupo sofreu uma espécie de ataque nuclear.

Um panfleto apócrifo, colocado debaixo da porta das casas, dizia que eles iriam tratar lixo atômico, aproveitando a possível ignorância das pessoas e o temor gerado pelo acidente no Japão.

Acidente nuclear do Japão inspira guerra entre empresas em Pombos ‘É chato esta propaganda mentirosa, mas faz parte do processo.

Estamos mexendo no queijo de nossos concorrentes”, diz Zilton José Sá da Fonseca, sócio da Aborgama e doutorando da UFRJ de planejamento energético.

Quebra do monopólio da Serquipe A empresa pernambucana Brascon Empreendimentos e Participações, que está se instalando em Pombos, no Agreste de Pernambuco, promete quebrar um monopólio de 20 anos na área de tratamento de lixo hospitalar no Estado de Pernambuco.

Atualmente, apenas a empresa Serquipe oferece os serviços, para clientes como hospitais e clínicas, postos de saúde e até clínicas veterinárias, que são proibidos por lei de descartar o lixo hospitalar diretamente em aterros sanitários.

Os sócios do empreendimento são profissionais liberais locais, sendo dois advogados e três médicos.

No caso dos médicos, a união não se trata de uma confraria, pois como são donos de clínicas, o investimento representa uma verticalização na produção.

Lembra o caso dos empresários da construção civil local que se juntaram para montar uma cimenteira em Suape, visando economizar com o preço do cimento.

Um dos sócios da empresa é o médico José Ricardo Carvalho, dono do hospital Santa Efigênia, em Caruaru.

O outro é o médico Armindo Moura, dono de uma clínica de radiologia no Recife.

Em Pernambuco, o investimento total da Brascon envolve recursos próprios da ordem de R$ 5 milhões, entre prédios e maquinário.

O empreendimento deve gerar cerca de 100 empregos diretos e indiretos, numa cidade pequena e pobre.

Com multinacional uruguaia, empresários locais tentarão romper monopólio do lixo hospitalar em Pernambuco