Giselle Mourão, do site Contas Abertas Em pleno século XXI, ainda existem casos de trabalho escravo no Brasil.
Por isso, erradicar este tipo de atividade por meio de ações fiscais coordenadas pela Secretaria de Inspeção do Trabalho, nos focos previamente mapeados, é o objetivo do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) que possui políticas voltadas para o setor.
No entanto, apesar da dotação do programa ter aumentado 22% em relação ao ano passado, só 13% foram desembolsados (veja tabela).
A fiscalização visa regularizar os vínculos empregatícios dos trabalhadores em condição de escravidão.
A ação de “fiscalização para erradicação do trabalho escravo” foi a que mais recebeu recursos neste ano.
Até agora, dos R$ 5,3 milhões disponibilizados, somente 14,4% foram desembolsados.
O objetivo do MTE com a rubrica é erradicar o trabalho escravo contemporâneo por meio de atividades dos grupos especiais de fiscalização móvel nacional e regional, “garantindo a preservação dos direitos humanos, de acordo com os princípios constitucionais”.
Segundo o cadastro de ações governamentais divulgado pelo Ministério do Planejamento, a ação “constitui a principal ferramenta para a erradicação do trabalho escravo no âmbito da União”.
As equipes são compostas por auditores fiscais do trabalho e agentes delegados de polícia.
Eles atuam com planejamento estratégico, em focos previamente definidos, atendendo as denúncias.
Durante a ação, as equipes visam regularizar os vínculos trabalhistas dos empregados encontrados em condição parecida com a de escravos, fazendo os empregadores cumprirem a legislação trabalhista, assistindo e garantindo a segurança dos trabalhadores, emitindo Carteiras de Trabalho e Previdência Social - CTPS, providenciando rescisões indiretas dos contratos de trabalho, dentre outras atividades.
Quando o empregador não cumpre essas obrigações, o Ministério do Trabalho, no decorrer das investigações, responsabiliza-se pela alimentação, hospedagem e transporte do trabalhador e pelas três parcelas do seguro desemprego.
Com o pagamento de seguro-desemprego para os trabalhadores escravos, somente 7,5% dos R$ 5,3 milhões disponíveis para a ação foram desembolsados.
O trabalhador que for identificado em regime de trabalho forçado será resgatado dessa situação e terá direito ao seguro-desemprego no valor de um salário mínimo.
Outros R$ 6,4 milhões já foram reservados em orçamento para as ações que compõem o programa.
O valor corresponde a 51% dos R$ 12,4 milhões disponíveis.
O Contas Abertas entrou em contato com a assessoria de comunicação do MTE para obter informações sobre a execução orçamentária do programa.
Mas até o fechamento da matéria não houve retorno.
Verba para o programa não erradica o trabalho escravo, diz especialista Para a professora da Universidade de Brasília e especialista em direitos humanos, Ela Wiecko, o valor destinado para o programa de erradicação do trabalho escravo não é suficiente para acabar com o emprego desumano. “Mesmo se houver mais dinheiro será muito difícil eliminar o trabalho escravo no Brasil.
Para a erradicação do trabalho, teria que haver ação mais radical”, explica.
Wiecko avalia ainda, que as condições de trabalho do escravo estão relacionadas com a própria sociedade capitalista. “Vamos sempre conviver com isso.
Temos que lutar por relações de trabalho mais dignas”.
Mas, para a especialista, a fiscalização em relação a esse tipo de trabalho aumentou. “Até mesmo os estados estão sendo estimulados a criarem políticas de prevenção”, diz.
Segundo a professora, “Deve-se investir mais na prevenção, descobrir os focos para que seja realizado trabalho específico”, conclui.