Eugênia Lopes e Rosa Costa, do Estadão BRASÍLIA - Descontente com a partilha do poder, o vice-presidente da República, Michel Temer, aproveitou a festa de comemoração pelos 45 anos do PMDB, na terça-feira à noite, para defender a ocupação de cargos no governo por integrantes do partido.

Diante de uma plateia de 300 peemedebistas, Temer foi ovacionado ao argumentar que o partido venceu as eleições e, por isso, “tem o direito” a participar do governo, sem ter a pecha de fisiologista. “Nós participamos de uma eleição em que fomos vencedores.

PT e PMDB fizeram uma aliança.

Então, estamos no direito de, tendo participado de uma eleição, de ocupar os cargos”, disse.

Para ilustrar seu discurso, o vice-presidente usou de ironia: “Proponho que daqui a cinco, quatro anos nós lancemos um candidato à Presidência e, se ganharmos, e quando ganharmos, dizer que, como nós não somos fisiológicos, não vamos indicar ninguém para o governo”.

Depois de se reunir na tarde desta quarta-feira, 23, com a bancada do PMDB no Senado, Temer reiterou que não defendeu o lançamento de candidatura própria à sucessão da presidente Dilma Rousseff, em 2014.

Explicou que “muitas vezes” ouve críticas de que o PMDB não pode participar do governo, apesar de o partido ter vencido a eleição.

Temer não descartou, no entanto, que no futuro o PMDB venha a lançar candidato próprio à Presidência.

Não é a primeira vez que Temer “ameaça” com candidatura própria do PMDB.

Já parte do governo Lula, Temer chegou a defender candidatura própria nas eleições de 2010.

O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), afirmou que o partido pretende lançar candidaturas na maioria dos municípios nas eleições do ano que vem. É uma forma de a legenda se preparar para ter candidato próprio à Presidência. “Não quer dizer que seja na próxima eleição.

Nós teremos candidato à Presidência no momento em que tivermos condições de ganhar as eleições.

Não se falou especificamente em 2014, não se falou em datas”, observou.

Para o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), a discussão sobre sucessão presidencial é prematura. “O PMDB não é apenas um participante do governo.

Ele é governo.

Tem a vice-presidência da República, tem espaços importantes no Congresso.

E eu acredito que, além de ser imprópria essa discussão agora, o PMDB não tem motivo para se sentir insatisfeito com o tratamento recebido da presidente”, afirmou o petista.

Sem espaço.

Passados quase três meses do início do governo Dilma Rousseff, a maioria dos cargos de segundo e terceiro escalões reivindicados pelo PMDB ainda não foram preenchidos pelos apadrinhados políticos de lideranças do partido.

Essa demora desagrada parte da bancada da Câmara e do Senado, que defende uma participação maior do PMDB no governo.

O partido também está insatisfeito com o cancelamento de restos a pagar do Orçamento de 2010.

Para demonstrar fidelidade ao governo, o PMDB tem votado em bloco a favor do Palácio do Planalto.

Foi assim na votação que fixou o salário mínimo em R$ 545: todos os 77 deputados votaram a favor da proposta do governo.

Essa fidelidade foi lembrada na festa do PMDB.

Temer defendeu a união do partido nas votações do Congresso. “Ou votamos inteiramente a favor ou votamos inteiramente contra. É isso que nós dá respeitabilidade.”