Por Ana Flor, na Folha.com A presidente Dilma Rousseff passou por uma saia justa, em entrevista à TV portuguesa SIC, por demonstrar desconhecer a iminente demissão do primeiro-ministro, José Sócrates –que renunciou nesta quarta-feira, já que seu plano de austeridade fiscal foi rejeitado pelo parlamento português.

Segundo o escritor e jornalista Miguel Sousa Tavares, que a entrevistou, Dilma pareceu não saber que Sócrates estava prestes a deixar o cargo.

Ela foi perguntada sobre como seria chegar em Portugal sem ter o mandatário para recebê-la, e a resposta teria sido: “Mas não tem presidente para me receber?” Logo em seguida, ao saber a situação de Sócrates, teria dito: “Seja quem for o primeiro-ministro, ele vai me receber”.

Segundo Tavares, esta parte da entrevista irá ao ar na noite de hoje.

A entrevista completa será transmitida no domingo à noite.

De acordo com o relato do jornalista, Dilma reconheceu que ficou decepcionada com parte dos resultados da visita do presidente norte-americano Barack Obama.

Ela demonstrou especial insatisfação com a falta de evoluções concretas no setor aduaneiro.

Segundo os jornalistas portugueses, a presidente afirmou que “os produtos brasileiros vão para a China e, de lá, para os EUA”, uma vez que os acordos entre os dois países não permitem um caminho direto entre Brasil-EUA.

Dilma teria também ficado desgostosa com o início das operações militares da coalizão na Líbia, que ocorreu no Brasil. “Não gosto de declarações de guerra, onde quer que ocorram”, disse, segundo relato do jornalista e escritor Miguel Sousa Tavares, que a entrevistou.

A presidente foi também perguntada sobre a estranheza de ter em sua base aliada dois ex-presidentes, José Sarney, que hoje preside o Senado, e Fernando Collor, que teve os direitos políticos cassados pelo Congresso.

Segundo Tavares, ela afirmou que “o Brasil é um país com uma grande diversidade, e quem não entende essa diversidade não pode governar o Brasil”.

Ainda ao falar da relação com o Congresso, ela teria reconhecido que é desgastante ter que negociar com parlamentares a cada projeto que o governo envia para o Congresso.

Ela havia sido perguntada sobre a expectativa de aprovação do projeto que cria a Comissão da Verdade.

Na área econômica, Dilma reconheceu que a inflação é um “trauma” para os brasileiros, e que seu governo fará tudo o que for possível para que ela não retorne. “Não queremos ter nada próximo ao que houve no passado”, afirmou ela, segundo o relato.

Ao final da entrevista, Dilma elogiou o trabalho de Tavares como escritor e se disse “envergonhada” de pedir um autógrafo.

Tavares a presenteou com um de seus livros, com uma dedicatória.