Foto: Revista Veja Adriano Ceolin, do iG Em entrevista ao iG, o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral da Presidência da República) afirmou que o chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, é “um capitão discreto” da equipe da presidenta Dilma Rousseff.

Auxiliar mais próximo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Carvalho avalia que Palocci não entrará em rota de colisão com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, como chegou a ser especulado nas últimas semanas.

A pedido da reportagem, o ministro comparou Palocci com o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu (2003-2005), a quem Lula uma vez chamou de “capitão do time”. “Palocci é um capitão a seu modo.

Um modo muito mais discreto.

Mas com uma forte delegação da presidenta. É um auxiliar, um braço direito”, disse. “Ele não pode (disputar).

Perde autoridade.

Eu percebo no Palocci um grande cuidado em não entrar em bola dividida”, completou o atual ministro e ex-chefe do gabinete pessoal de Lula.

Carvalho deu a entrevista na tarde esta segunda-feira.

O ministro disse que conversa com Lula periodicamente.

Contou que o ex-presidente faltou ao encontro com presidente dos EUA, Barack Obama, para “não dividir holofotes” com Dilma.

O ministro também elogiou o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que está de saída do DEM: “Ele nunca fez uma inauguração sem convidar o presidente.

Ao contrário de prefeitos e até aliados nossos que se apropriam de recursos e faturam só para si”. iG: O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, anunciou nesta segunda-feira a criação do seu novo partido, o PSD, e sinalizou que pretende ter uma boa relação com o governo da presidenta Dilma Rousseff.

Como o senhor vê isso?

Gilberto Carvalho: A relação com os partidos é feita pelo ministro Luiz Sérgio (Relações Institucionais), mas eu vejo como positiva a aproximação do prefeito Kassab.

Apoio você nunca recusa.

Nós não pedimos para o Kassab fundar um partido.

Havia já algum tempo uma convivência muito tranquila do prefeito com o governo federal.

O que não vale a mesma coisa no plano estadual.

São as contradições muitos naturais.

Em São Paulo, a oposição do PT ao Kassab é forte .

Mas, como governo federal do presidente Lula e agora com a presidenta Dilma, o prefeito sempre manteve um comportamento cuidadoso.

Eu diria até um pouco distinto da tradição.

Ele nunca fez uma inauguração sem convidar o presidente.

Ao contrário de prefeitos e até aliados nossos que, às vezes, se apropriam de recursos e faturam só para si.

Nesse sentido, Kassab foi diferente.

Sempre foi cuidadoso e cordato com o governo federal.

Isso facilitou a relação.

Não vejo nenhum problema de ele nos apoiar.

O que não significa compromisso do governo federal com o partido dele.

Vamos ver qual vai ser o comportamento deste partido novo. iG: Para a relação do governo com o Congresso Nacional, é bom ter um novo partido, já que muitos deputado insatisfeitos na oposição?

Carvalho: Essa questão partidária nós teríamos de discutir no bojo da reforma política, que a gente espera que ocorra com a instituição da fidelidade partidária, do financiamento público de campanha, da lista partidária para o voto.

Eu não posso dizer simplesmente se é bom ou ruim ter mais um partido ou menos um partido.

Mas sim a qualidade dos partidos que nos temos no Congresso Nacional. É muito cedo para a gente se pronunciar sobre o PSD.

Eu insisto não é mal que esse partido venha nos apoiar, mas ele está nascendo agora.

Vamos ver como será sua prática. iG: E a possibilidade de haver um crescimento do PSB é interessante, a partir da fusão com o PSD?

Carvalho: Não vejo nenhum problema. É mais um aliado nosso que pode se fortalecer.

O importante é que haja, de fato, partidos fortes.

Isso é bom para democracia. iG: Agora se houver um crescimento do PSB, “o Palácio do Planalto” vê um problema no crescimento do capital político do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (atual presidente do PSB) e a possibilidade de ele vir a disputar Presidência da República em 2014?

Carvalho: Isso é uma bobagem.

Eduardo Campos é um aliado nosso desde a primeira hora.

Desde 1989 estamos juntos com o PSB.

Então, não vejo como ameaça.

Ao contrário.

Para nós é interessante que partidos da nossa base se fortaleçam.

E o Eduardo tem uma relação com o presidente Lula e com a presidenta Dilma que é extraordinária.

Então, não há o que temer. iG: Durante a formação do ministério da presidenta Dilma, houve uma disputa entre o PMDB e PSB por algumas pastas.

O senhor acha que, agora, as coisas já estão mais ajustadas?

Carvalho: Penso que sim. É claro que agora é que vai ser constituído o segundo, terceiro escalão e as empresas estatais.

Podemos ter ainda trepidações.

Mas acho que as relações estão bem mais assentadas.

O PMDB é maior partido aliado nosso, depois o PSB e outros partidos.

Por isso não vejo tanta briga entre os partidos da base aliada. iG: O senhor acha que esta semana deve acelerar um pouco mais a formação do segundo e terceiro escalões?

Carvalho: Essa é a tendência de o governo sentar com os partidos e terminar a montagem do governo.

Até porque quanto mais demora isso é pior para o governo. iG: O senhor acha que demorou muito?

Carvalho: Demorou, mas é típico de começo de governo.

Em 2003, foi a mesma coisa.

Até em 2007 (segundo mandato do Lula) a gente também demorou um pouco. É natural, porque tem de estudar bem. iG: Esta semana uma coluna política citou que o PMDB estaria com saudade do presidente Lula.

Carvalho: Risos… iG: Porque o Lula tem estilo diferente da Dilma.

O senhor podia comentar esses estilos de cada um.

Carvalho: Não posso responder pelo PMDB evidentemente.

Mas eu sempre digo é o mesmo projeto com estilos diferentes.

O que é mais marcante na presidenta Dilma?

Ela é mais preocupada com a gestão interna.

Ela vai mais ao detalhe.

Permanece no gabinete conduzindo todo o processo.

Não quer dizer que ela não delegue, mas ela chama muito para si.

O Lula ia mais para rua.

Não quer dizer a Dilma não vá.

Na relação com os partidos, sinceramente eu não vejo grandes diferenças.

Todos os partidos que sentam com a Dilma saem muitos satisfeitos porque ela conversa bem.

Ela não quer fazer uma espécie de hegemonia absoluta do PT.

Ela está preocupada.

Acho que ela convive com o Temer hoje. iG: Pelo fato de conhecer muito bem a gestão, a presidenta Dilma é mais rigorosa na escolha dos nomes que vão compor o governo?

Carvalho: Ela tem uma grande vantagem sobre o Lula.

São oito anos de vivência dentro do governo.

Herdou algo que já conhecia.

Por exemplo, essa coisa de botar gente mais técnica nas agências. É uma conclusão de uma experiência que ocorreu.

Essa é a diferença.

Tem a vantagem de ter a experiência anterior. iG: Nos bancos públicos também deverá ser assim?

Carvalho: Sim, mas não quer dizer que não vai haver composição política.

Vai ter sim composição política (na escolha de nomes para os cargos em bancos públicos). iG: Mas o critério…

Carvalho: O critério principal, claro, vai ser na questão da competência. iG: Há uma disputa dentro do governo entre os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Antonio Palocci (Casa Civil) como ocorreu no começo do governo Lula entre o próprio Palocci e o ex-ministro José Dirceu (à época chefe da Casa Civil)?

Carvalho: O Palocci hoje tem uma posição que é muito importante. É o coordenador de governo.

Palocci é suficientemente inteligente para não entrar em nenhuma disputa.

Ele sabe que cada vez que entrar numa disputa ele perde a autoridade.

Portanto, não acho que esteja ocorrendo uma disputa Mantega x Palocci.

O ministro Palocci tem sido muito cuidadoso naquilo que observo. iG: Mas por que ele perde autoridade?

Carvalho: Palocci coordena o governo. iG: Ele sai menor se disputar?

Carvalho: Sai menor. É lógico.

Ele não pode (disputar).

Perde autoridade.

Eu percebo no Palocci um grande cuidado em não entrar em bola dividida. iG: Ele é um “capitão do time” como era José Dirceu no governo Lula?

Carvalho: Palocci é um capitão a seu modo.

Um modo muito mais discreto.

Mas com uma forte delegação da presidenta.

Dilma tem o Palocci muito perto de si.

Ele é um auxiliar, um braço direito.

E, por isso, além de ser coordenador, ele representa a ação da presidenta para dentro do governo.

Então, não convém a ele bola dividida.

Eu não tenho visto ele fazer isso.

Ao contrário.

Toma o máximo de cuidado em assuntos que vão para a área de economia (de Mantega) iG: Na visão do senhor ele tem tomado cuidado…

Carvalho: Essa fofocas que apareceram na imprensa sobre Palocci e o Fernando (Pimentel, ministro de Desenvolvimento Econômico).

Essas pseudo avaliações não são da presidenta nem do Palocci. É de gente que eu não sei quem, nem quero saber.

No caso do Guido (Mantega), ela (a presidenta) tratou de rapidamente desmentir pela repercussão que a economia tem.

E, no caso do Fernando, chamá-lo (no Palácio do Planalto) para desfazer qualquer mal entendido. iG: Conhecendo a presidenta, o senhor não acha que ela já tem uma avaliação dos ministros?

Quem está indo bem, quem está indo mal.

Carvalho: Ela não tem externado isso.

Eu observo que ela faz comentários, mas são pontuais.

Já fez comentários bons sobre mim, ruins também.

Já me deu uma… iG: Já tomou bronca?

Carvalho: Uai, natural. iG: O que é mais difícil tomar bronca do Lula ou da Dilma?

Carvalho: Igual.

Bronca nunca é bom. iG: Mas bronca de mulher…

Carvalho: Não, não.

Ela é super carinhosa.

Ao contrário da imagem… iG: Está acabando esse mito de durona?

Carvalho: Ela é muito exigente .

Qual é a vantagem?

Ela fala na lata.

Pá, pá, pá e acabou. iG: Mas o Lula também falava, não é?

Carvalho: O Lula falava muito!

Em 23 de março (de 2003), eu já havia levado 30 vezes mais bronca do Lula do que da Dilma. iG: O senhor fica mais à vontade na função de ministro do que na função de chefe de gabinete pessoal?

Carvalho: Não. iG: Por quê?

Carvalho: Pelo temperamento, pela minha história eu prefiro bastidor.

Prefiro ajudar por trás da cortina.

Confesso que custa um pouco a função.

Claro, é tudo novo, estou me adaptando agora. iG: O senhor foi quase presidente do PT.

O senhor continua com muita relação com o partido, fazendo esse canal entre o partido e o governo?

Carvalho: Agora muito mais do que antes.

Porque nesses oito anos eu era um pouco monge aqui dentro (do Palácio do Planalto).

Eu ficava recolhido e não tinha condição para sair e ir nas reuniões do partido.

Agora eu aproveito os fins de semana para retomar o contato com o partido.

Vários ministros vão fazer isso, mas eu tenho um papel importante de fazer um ponte com o PT. iG: Por causa disso o senhor tem conversado bastante com o presidente Lula?

Carvalho: A cada dez dias, quinze dias.

Fala, a gente troca idéias.

Ele está muito contente.

Pessoalmente, ele está muito bem.

Está muito tranquilo. iG: Ele já desencarnou do cargo de presidente?

Carvalho: Está desencarnando.

Está muito agitado, a mil por hora.

Fazendo viagens, palestras e reuniões.

Está se interessando pela política em São Paulo, para ajudar.

Ele não tem jeito. iG: O presidente Lula tinha adiantado para o senhor que não viria ao encontro com o presidente dos EUA, Barack Obama?

Carvalho: Não.

Agora já faz mais uma semana que eu não falo.

A última vez foi por telefone.

Mas achei muito natural (ele faltar ao encontro com Obama).

Conhecendo bem o Lula e o cuidado que ele tem de não fazer sombra para a presidenta Dilma, eu achei que fosse muito natural que ele não viesse.

Porque se ele viesse, quer queira, quer não, seria um personagem forte.

Uma coisa é o Fernando Henrique Cardoso ou o José Sarney.

Outra coisa é o Lula, que deixou o governo agora e teve uma relação com Obama.

Teve aquela história do “O Cara”.

Teve a crise do Irã.

Então, tem uma história de relação com o Obama diferente do Fernando Henrique.

Quer queira, quer não Lula iria dividir os holofotes com a Dilma.

Ele é extremamente cuidadoso nessa questão. iG: O senhor atuou para evitar os protestos de movimentos sociais na passagem do Obama?

O senhor entrou nesse assunto?

Carvalho: Não entrei.

Nossa relação com os movimentos pega sempre no essencial.

Nossa preocupação é que não houvesse nenhuma manifestação violenta.

Mas a manifestação democrática não vejo nenhum problema.

Eu acho até que o público ficou longe demais.

Mas isso não foi exigência nossa.

Quem botou o pessoal lá perto do Supremo Tribunal Federal não fomos nós.

Foi a segurança norte-americana que pediu para limpar a praça (dos Três Poderes). iG: Em evento em Brasília, a segurança dos EUA pediu que ministros fossem revistados.

O senhor ficou sabendo disso?

Carvalho: Não fiquei sabendo. iG: Foi um evento da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Eles abandonaram o local.

Carvalho: Eu abandonaria também.

Não acho que seja justo no seu próprio País. iG: Alguém reclamou para o senhor?

Carvalho: Fiquei sabendo pelos jornais.

Mas é estranho, não é legal.

Nosso cuidado todo com o Obama seria tratá-lo como presidente de um País importante, mas não tratá-lo como nada excepcional.

Se você olhar todo ritual que houve com Obama, é exatamente o mesmo ritual que ocorre qualquer presidente quando vem ao País em visita de Estado.

Acho que a presidenta Dilma teve uma postura muito altiva, forte.

Quando houve divergência ela falou no meio da conversa sobre a Líbia dizendo :“Acho que a guerra não resolve.

Não é caminho para paz”.

Aliás, está se mostrando isso de novo com a morte de civis. iG: O governo prepara algum pacote de medidas econômicas?

O senhor irá fazer a intermediação com os movimentos sociais?

Carvalho: É natural que haja sempre medidas do governo que precisam ser discutidas com centrais sindicais.

A presidenta pediu para mim que eu fizesse com os movimentos sociais um diálogo permanente.

Eu já recebi a Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores de Agricultura), o MST (Movimento do Sem Terra) e vou receber os demais.

Isso será permanente.

Não está previsto nenhum pacote.

Salvo a apresentação de um programa de combate à erradicação da pobreza – que não é um pacote, é um programa.

Deve ser anunciado em maio.

Mas não tem nenhum pacote previsto.

Sempre o diálogo será nossa ferramenta.