Foto: Heudes Regis/JC Imagem (1º/7/2010) Pernambuco pode ser escolhido definitivamente este ano como local para instalação de uma das quatro usinas nucleares que o Brasil pretende ter até 2030.
Um dos possíveis locais é Itacuruba, no Sertão, a 481 quilômetros do Recife.
A apresentação dos planos da Eletronuclear, empresa pública vinculada ao Ministério de Minas e Energia, para o Nordeste foi feita nesta quarta-feira (16) pelo chefe do escritório da estatal na Região, Carlos Henrique da Costa Mariz.
Ele condenou as comparações que a mídia tem feito entre o Brasil e o Japão, mas admitiu que o projeto das usinas brasileiras leva em consideração um possível “tsunami” no Rio São Francisco, embora a possibilidade seja remota.
Leia e escute a entrevista concedida ao repórter Daniel Guedes, do Blog de Jamildo. » LEIA TAMBÉM: Projeto de usinas no Nordeste leva em conta ‘’tsunami’’ no São Francisco BLOG DE JAMILDO - Em que fase que está este processo de seleção do local?
CARLOS HENRIQUE DA COSTA MARIZ - Estamos fazendo os estudos de localização não só para o Nordeste, mas para o Brasil inteiro.
Esses estudos estão sendo encaminhados para o Ministério de Minas e Energia para, no momento adequado, ter uma decisão sobre suas localizações.
BLOG DE JAMILDO - O que é este momento adequado?
O que está faltando?
CARLOS MARIZ - O momento adequado é quando o governo achar que está na hora certa de tomar esta decisão.
BLOG DE JAMILDO - Mas agora só há dois lugares em vista?
CARLOS MARIZ - Não.
Agora você tem vários locais.
A princípio, microrregiões escolhidas.
Aqui no Nordeste são quatro Estados e tem estudos em andamento nas demais regiões do Brasil, particularmente no Sudeste.
BLOG DE JAMILDO - Mas o senhor só apresentou aqui (no seminário) dois locais (Itacuruba, em Pernambuco, e Traipu, em Alagoas)…
CARLOS MARIZ - Não apresentei só dois.
Eu apresentei dois locais, mas não quer dizer que são só dois.
Eu disse que tem outros locais também em frente a Pernambuco e outros em frente a Alagoas.
BLOG DE JAMILDO - Quais são esses locais?
CARLOS MARIZ - Olha, eu já falei isso em várias ocasiões.
Não vou citar agora porque isso é coisa que quem tem que dizer é o governo.
BLOG DE JAMILDO - O senhor falou também que faltaria uma decisão política.
De quem?
CARLOS MARIZ - A decisão é política.
Tem que ser do governo (federal), com Ministérios, com o Conselho Nacional de Política Energética e tem também a Câmara dos Deputados.
BLOG DE JAMILDO - O senhor falou em entrevistas e também hoje na palestra que é preciso diferenciar a situação do Japão e a do Brasil.
O que é que tem de diferente?
CARLOS MARIZ - Tudo.
Não tem nada igual.
Em primeiro lugar, o Brasil não é sujeito a terremotos desta magnitude.
Inclusive, a magnitude deste terremoto é uma magnitude extremamente elevada, que mesmo os projetos que foram feitos não levavam em conta um valor tão alto.
Para tudo.
Tanto que a refinaria pegou fogo, as usinas hidrelétricas se romperam.
E tá lá a (usina) nuclear.
Tá lutando, cambaleante.
A gente não tem informações, ainda, precisas de como está a situação.
Estamos aguardando para ver como vai ficar este quadro lá.
Mas aparentemente está sob controle, lá no Japão.
Mas isso é o caso japonês.
A tecnologia que eles usavam não é a tecnologia que a gente usa aqui.
BLOG DE JAMILDO - Já foi definida a tecnologia que será usada aqui?
CARLOS MARIZ - Aqui é PWR.
Lá é BWL.
E é antiga.
A usina foi projetada em 1950.
Mas mesmo assim ele resistiu bastante. (…) Onde é que você imaginou ter um terremoto daquela magnitude e um tsunami daquela dimensão.
Não há nada que fique em pé, como não ficou lá.
Nada ficou em pé lá.
Nem usina hidrelétrica ficou em pé, como também não ficou em pé refinaria, nada disso. É preciso ter essa clareza para que a gente não confunda, isso é importantíssimo, o caso japonês com o caso brasileiro.
BLOG DE JAMILDO - Foi citada aqui a possibilidade extrema de Sobradinho romper e a usina (nuclear) estar na margem do Rio São Francisco.
Isso é levado em consideração nesses estudos?
CARLOS MARIZ - Isso é levado em consideração nos estudos e a localização fica imune a isso aí.
BLOG DE JAMILDO - Isso já está estudado?
CARLOS MARIZ - Está em fase de estudos.
Mas isso não é problema.
A gente já fez uns cálculos iniciais para ver o tamanho da onda que chegava e temos locais suficientes para colocar essa usina acima dessa onda.
BLOG DE JAMILDO - Que papel terá a Transnordestina (nas obras da usina nuclear)?
CARLOS MUNIZ - (Papel) fundamental para o transporte de equipamentos para a construção da usina.
BLOG DE JAMILDO - Quais serão os próximos passos?
CARLOS MARIZ - Os próximos passos quem tem que dizer é o governo porque a gente tem que aguardar os impactos, tem que ouvir os políticos e tem que ouvir a população.
Tem que ouvir todo mundo.
BLOG DE JAMILDO - Então está numa fase de espera?
CARLOS MARIZ - Não.
Não está em fase de espera.
A gente continua fazendo nossos estudos.
Ninguém está em fase de espera.
Pelo contrário.
Estamos caminhando porque a gente sabe distinguir o joio do trigo.
A gente sabe que aquele problema japonês não tem nada a ver com o nosso problema brasileiro.
Então não tem porque parar.
A única parada, se for feita, é por pressão.
Aí sim.
BLOG DE JAMILDO - Pressão política?
CARLOS MARIZ - Pressão da população que talvez ainda não esteja bem informada.
Mas fora isso não vamos parar. É exatamente diferente um caso do outro (Japão e Brasil).
BLOG DE JAMILDO - Essa confusão pode trazer algum atraso?
CARLOS MARIZ - Olha, não sei.
Tem que ver.
Está muito cedo para falar sobre isso.
Por enquanto eu estou observando.