Por Felipe Coutinho, na Folha.com A deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF) admitiu nesta segunda-feira que recebeu caixa dois para bancar a campanha eleitoral de 2006, quando foi eleita deputada distrital.

Ela aparece em vídeo recebendo dinheiro do delator do mensalão do DEM, Durval Barbosa.

Em nota, Jaqueline disse que recebeu dinheiro de Barbosa e não registrou na Justiça Eleitoral. “Durante a campanha eleitoral de 2006, estive algumas vezes no escritório do senhor Durval Barbosa, a pedido dele, para receber recursos financeiros para a campanha distrital, que não foram devidamente contabilizados na prestação de contas da campanha”, escreveu a deputada. À época do vídeo, Barbosa era presidente da Codeplan (Companhia de Planejamento do Distrito Federal), nomeado pelo pai de Jaqueline, o ex-governador Joaquim Roriz.

A deputada, contudo, preferiu não comentar o vídeo em que aparece recebendo o dinheiro de Durval Barbosa. “Aguardo a resposta do Supremo Tribunal Federal sobre o pedido dos meus advogados para tomar conhecimento completo do teor do vídeo.” Jaqueline disse ainda que, por “recomendação médica”, estará em licença da Câmara dos Deputados por cinco dias.

DELATOR Em depoimento ao Ministério Público Federal, Durval Barbosa afirmou que foram feitos mais repasses de dinheiro para a deputada federal além daquele registrado em vídeo.

Segundo Barbosa, o dinheiro era uma retribuição pela não participação da deputada na campanha de Maria de Lourdes Abadia (PSDB) ao governo do Distrito Federal em 2006.

Jaqueline integrava a coligação de Abadia nas eleições.

De acordo com o procurador-geral da Republica, Roberto Gurgel, o delator teria admitido que os recursos entregues a Jaqueline teriam origem ilícita. “Ele fez referência de que teria havido outros pagamentos.

Na verdade, tudo será objeto de investigação”, afirmou o procurador.

E completou: “Tudo aponta no sentido de que a origem seja ilícita, mas isso a gente tem que investigar”.

Gurgel não soube precisar o valor que Barbosa entregou para Jaqueline.

Para o procurador, o depoimento dele “não foi rico em detalhes” O procurador afirmou que o Ministério Público recebeu o vídeo no final de fevereiro.

Ele disse que Barbosa alegou que o vídeo estava “perdido”.

Gurgel disse ainda que, além do vídeo de Jaqueline, o Ministério Público Federal não tem conhecimento de novos vídeos gravados por Barbosa nem nenhuma imagem envolvendo o ex-governador Joaquim Roriz.

O procurador afirmou que não se lembra de Barbosa ter mencionado a entrega de dinheiro para Roriz.

Jaqueline é a primeira pessoa do chamado “grupo de Roriz” a aparecer nos vídeos gravados por Barbosa. “Até o momento acredito que não [referência à Roriz nos depoimentos].

Tivemos essa noticia apenas pela imprensa, mas há uma serie de depoimentos de Durval Barbosa que precisam de depuração e estamos fazendo nesse momento isso para ver os elementos que temos em relação a esse aspecto.” O procurador afirmou que deve concluir em um mês a denúncia no STJ (Superior Tribunal de Justiça) contra todos os envolvidos na operação Caixa de Pandora que derrubou o ex-governador José Roberto Arruda, e envolveu secretários de governo, empresários e deputados distritais.

O caso de Jaqueline será tratado isoladamente no STF.

Na sexta-feira, o delator prestou o depoimento de cerca de quatro horas à Procuradoria-Geral da República.

Autor das gravações e das revelações que derrubaram no início de 2010 o ex-governador José Roberto Arruda (ex-DEM), Barbosa tem dado informações em troca de possível redução da pena em caso de condenação.

Gurgel reconheceu incômodo com o surgimento do novo vídeo, mas evitou dizer se esse seria motivo para a queda da delação premiada de Durval. “Estamos acompanhando os novos fatos e tudo mais, mas não temos condição de fazermos esse juízo.”