Foto: Chico Porto/ JC Imagem Fábio Guibu, da Folha de São Paulo O tradicional encontro dos bonecos gigantes de Olinda foi marcado por uma polêmica gerada pela realização de um desfile paralelo na segunda-feira (7), promovido por um empresário que registrou como seu o domínio da marca “bonecos gigantes de olinda” na internet.

Batizado de “apoteose dos bonecos gigantes”, o desfile paralelo chegou a ser confundido pelos foliões com o evento original, que é realizado há 24 anos pelo artista plástico Silvio Botelho, 52, criador de 872 personagens em 37 anos de trabalho. “É um oportunismo barato”, acusou Botelho. “É a banalização da cultura que levou quase quatro décadas para consolidar os valores da terra”, disse, referindo-se aos personagens escolhidos pelo empresário Leandro Bezerra de Castro, 47, para serem retratados como bonecos.

Castro levou às ladeiras de Olinda 50 réplicas gigantes, não apenas de personagens da cultura pernambucana mas também da presidente Dilma Rousseff, do presidente dos EUA, Barack Obama, de Chuck, o boneco assassino, de Frankenstein, Fred Kruger e Michael Jackson. “É o caos, a tragédia”, disse o artista plástico. “Daqui a pouco vamos ter o Ronald Regan, o Pato Donald, o Mickey e toda a Disneylândia em Olinda”, declarou. “O que está acontecendo é uma infiltração trágica no Carnaval, que precisa ser banida.” No encontro de ontem, Botelho levou cem bonecos para desfilar pelas ladeiras do centro histórico da cidade.

Entre eles, figuras tradicionais da folia e cultura pernambucanas, como o garçom Batata, fundador do bloco Bacalhau do Batata, a cantora Lia de Itamaracá e o compositor Capiba.

O empresário se defendeu.

Disse que não é oportunista e afirmou que seu desfile traz “propostas bem distintas” das de Botelho, “mas que só engrandecem o Carnaval”.

Dono de um ateliê, a Embaixada dos Bonecos Gigantes, em Recife, Castro disse que não trabalha somente nos períodos de folia e que desenvolve projetos, como o de retratar a história do Brasil com seus personagens.

Ele elogiou o trabalho do artista plástico, a quem chamou de “grande amigo”, e afirmou que registrou o domínio “bonecos gigantes de Olinda” por “precaução”. “Fiz isso para que não fosse eventualmente proibido de desenvolver meu trabalho”, declarou.

Ele nega que sua intenção seja vetar iniciativas da concorrência.

A secretária da Cultura de Olinda, Márcia Souto, disse que os bonecos gigantes “estão acima das disputas” e que considera inócua a iniciativa do registro do domínio. “É algo que faz parte do imaginário popular, que não pode ser patenteado.” Souto afirmou que não pode impedir a realização do desfile do empresário porque o Carnaval pernambucano é “aberto”.

Mas declarou que a prefeitura reconhece o encontro da terça-feira como o legítimo desfile dos bonecos gigantes de Olinda.