Da Agência O Globo O cancelamento, antes de ontem, da nomeação do sociólogo Emir Sader (que ocuparia o lugar de José Almino na presidência da Fundação Casa de Rui Barbosa) teve o objetivo de tentar por fim à crise que se instalou no Ministério da Cultura (MinC) nas últimas semanas, depois que o intelectual se mostrou contra a posições da pasta e chegou a chamar a atitude da ministra Ana de Hollanda de “autista”.

O nome de Emir havia sido indicado para ocupar o cargo, mas sequer chegou a ser publicado no Diário Oficial da União.

Com o respaldo do Palácio do Planalto, a ministra anunciou, por nota oficial assinada por ela, que já estava em busca de outro nome – provavelmente o do cientista político Wanderley Guilherme dos Santos.

No Palácio do Planalto, porém, há o consenso de que Ana de Hollanda ficou extremamente fragilizada com o episódio.

Caso ela não mostre autoridade e pulso para conduzir os problemas da Cultura nos próximos meses, será uma forte candidata a deixar o governo numa eventual reforma ministerial.

Avaliação feita hoje no Planalto é a de que a ministra não conseguiu conduzir o debate sobre direitos autorais.

Ontem, numa entrevista sobre o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, indagada também sobre a permanência da ministra da Cultura, a presidente Dilma Rousseff não respondeu.

Um interlocutor que esteve ontem com Dilma lembrou que esta questão virou um embate entre setores do próprio governo, do PT e da sociedade, numa espécie de “Fla x Flu”.

A decisão de sustar a nomeação foi da própria presidente Dilma.

O ministro da Casa Civil, Antônio Palocci, atuou para contornar a crise e tentar reforçar a autoridade da ministra.

Segundo interlocutores, Dilma considerou as declarações do sociólogo à imprensa um ato de insubordinação e quebra de hierarquia.

Nas palavras de um ministro com acesso ao gabinete presidencial, Emir Sader teria “passado dos limites” e demonstrou não entender como funciona o governo, muito menos a gestão Dilma, em que não há espaço para que subordinados desautorizem publicamente seus superiores.

Nos bastidores, o que se disse foi que a confirmação do sociólogo no cargo inviabilizaria a permanência de Ana à frente da pasta.

A avaliação era que, caso Emir permanecesse no governo, abriria um grave precedente, mesmo com o forte apoio que ele tem de setores do PT.

Coube ao ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral da Presidência, informar Emir Sader que ele não seria mais nomeado para o cargo.

O apoio ao nome sociólogo era fortíssimo no PT.

Segundo suplente do senador Lindberg Farias (PT-RJ), o sociólogo foi o coordenador do evento de apoio do setor cultural à então candidata Dilma, no segundo turno.

O evento reuniu artistas e intelectuais, como o cantor e compositor Chico Buarque, irmão da ministra.

Na transição, Emir fez forte lóbi para assumir o Ministério da Cultura, mas foi preterido por Dilma, que pretendia contemplar a questão de gênero na composição do primeiro escalão. “Lamento a ausência de Emir Sader dentro do governo.

Ele daria uma enorme contribuição ao Estado. É um grande pensador brasileiro com enorme disposição para contribuir para o País”, disse o líder do PT, deputado Paulo Teixeira (SP).

Uma das críticas de Emir era em relação à redução do orçamento do ministério.

A pasta teve um corte de R$ 529,3 milhões, ficando com um orçamento de R$ 806,6 milhões, contra uma previsão original de R$ 1,33 bilhão.

Antes, nos vetos presidenciais, o governo já havia cortado R$ 237,3 milhões.