Por Terezinha Nunes Em 1990, após perder a eleição para Joaquim Francisco, numa campanha em que o então governador Miguel Arraes não quis ser candidato ao Senado, fez uma chapinha de deputado federal que derrotou grandes expoentes da esquerda e quase não pediu votos para ele na TV, o hoje senador Jarbas Vasconcelos se refugiou na praia do Janga por alguns dias de onde saiu convencido de uma coisa: se desejasse ser governador de Pernambuco teria que procurar outro caminho que não o de Arraes.
Em 1992, na eleição para prefeito do Recife, Jarbas ainda permaneceu no mesmo grupo, mas, em 1998, atraiu para seu palanque exatamente o seu maior opositor no estado, o PFL, partido que ajudou a combater no tempo da ditadura e cujos integrantes em grande parte o chamavam de “comunista”.
Arraes virou para ele coisa do passado.
O resto da história todos sabem.
Sem o fantasma do fogo-amigo que o atrapalhara em 1990, Jarbas venceu a eleição de governador no primeiro turno, foi reeleito também no primeiro turno e depois eleito senador.
Se não tivesse feito isso iria ficar a mercê da vontade de Arraes, condenado a terminar sua vida pública sem realizar o sonho de governar o seu estado.
O deputado federal João Paulo, do PT, vive hoje o mesmo dilema hamletiano enfrentado por Jarbas naquela época.
Sem espaço no seu próprio partido parece só ter um caminho se desejar um cargo majoritário no estado ( a própria Prefeitura da capital, o Governo ou o Senado): abandonar o seu ninho.
No PT dificilmente ele será considerado, depois de ter despontado como principal líder popular do petismo pernambucano em dois mandatos seguidos de prefeito.
Terá JP a mesma coragem e ousadia do Jarbas de 1998?
A decisão não é fácil.
Envolve riscos e possibilidade de fracasso mas, sem ela, ele pode continuar deputado federal por mandatos seguidos mas com votações cada vez menores, como aconteceu com outros políticos que atravessaram problemas idênticos.
Está desafiado, na linguagem popular, a dar o famoso “pulo do gato”.
Nos últimos dias, ele começou a dar sinais de que pode estar mudando sua rota.
Não foi à festa do PT e nem ao Baile Municipal que ele próprio transformou em reduto dos petistas e simpatizantes.
A festa ainda é do PT mas não é mais dele.
Para trilhar o mesmo caminho que Jarbas seguiu com sucesso, João Paulo terá duas opções, todas elas fora do PT: se abrigar em um partido da base governamental mas capaz de tomar um caminho diverso, ou optar por uma legenda de oposição, o que hoje é improvável mas amanhã pode não ser.
Quem convive com ele diz que está fechado em copas, mas deixou escapar outro dia que gostaria de continuar na base de apoio da presidente Dilma, ou seja, já admite ser oposição ao Palácio das Princesas se isso se fizer necessário.
Coisa, aliás, que não seria de estranhar desde que largou uma secretaria estadual por não se sentir suficientemente confortável.
De qualquer forma, para sair do PT e não perder o mandato, o deputado precisará se entender com a atual legenda.
A não ser que admita a possibilidade de responder a um processo por infidelidade partidária que pode maculá-lo, mas também transformá-lo em vítima, não apenas de João da Costa mas de todos os petistas, o que pode ser bom para quem já passou para a população a convicção de que foi traído pela sua cria.
Uma coisa, porém, João Paulo já conseguiu.
Virou a estrela do processo pré-eleitoral de 2012.
Pelo menos até tomar sua decisão.
Hoje, tanto governistas quanto oposicionistas, trabalham com a hipótese dele vir a ser candidato a prefeito, o que poderá provocar uma rearrumação do quadro eleitoral.
Grande eleitor no Recife, apesar da possibilidade de vir a ser responsabilizado pela má administração de João da Costa, João Paulo será um candidato fortíssimo.
Se de situação ou de oposição só cabe a ele definir.
CURTAS Cadoca se arma Embora já tenha revelado a alguns amigos que pode vir a ser candidato a prefeito do Recife em 2012, o deputado federal Cadoca Pereira (PSC) está, oficialmente, escondendo o jogo.
A única coisa que confirmou nos camarotes carnavalescos é que sua esposa, Berenice Pereira, deve disputar um mandato de vereadora da capital e o seu filho, Lulinha, uma vaga de deputado estadual em 2014.
PTB na estrada É sintomático o fato de o deputado federal Sílvio Costa estar tentando montar um palanque de oposição em Jaboatão.
Filiado ao PTB, único partido que até agora não faz parte do rol das legendas que pretendem se unir ao prefeito Elias Gomes (PSDB), Sílvio demonstra com isso que os trabalhistas estão jogando 2012 visando 2014.
Onde não tiverem palanque vão tentar armar um, mesmo que, no caso, capenga.
Greve agora não Esta semana, oficiais da PM enviaram, via Palácio das Princesas, uma nota para a imprensa defendendo o Governo e combatendo o movimento por melhoria salarial da categoria, apontado, em um primeiro momento, como defensor da deflagração de uma greve.
Entre os principais signatários – registre-se que outros citados desmentiram que tivessem assinado a nota – estavam oficiais que comandaram a famosa greve da PM no Governo Jarbas que teve entre os episódios mais graves um tiroteio na frente do Palácio.
Apoio Aliás, por falar em greve, se o atual governador vier a enfrentar uma paralisação policial terá a total compreensão e até apoio da oposição.
Ao contrário dos petistas de alguns anos atrás que incitaram o movimento paredista, os partidos que hoje fazem oposição agirão com responsabilidade por entenderem que uma greve policial não interessa a ninguém e é um desserviço à população já tão atribulada com a violência de cada dia.