Silvia Amorim e Martha Beck, em O Globo Mais uma resposta à pressão do mercado para assegurar o superávit primário do que uma redução efetiva de despesas.

Essa é a avaliação de analistas em finanças públicas sobre o detalhamento do corte de R$ 50 bilhões do orçamento de 2011 anunciado nesta segunda-feira pelo governo Dilma Rousseff.

Para o estrategista de investimentos para a América Latina do Banco WestLB do Brasil, Roberto Padovani, o corte não representará uma diminuição nominal dos gastos, mas um arrefecimento no ritmo de seu crescimento.

Apesar da ponderação, ele considerou positiva a iniciativa: - O corte efetivo não existe.

Estão cortando vento.

Mas se o governo tivesse mantido o ritmo de gastos que estavam previstos, ele cresceriam junto do PIB.

Agora as despesas devem crescer menos que o PIB.

Isso é muito bom quando se olha para o que foi feito nos últimos dois anos.

Consultora em contas públicas e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Margarida Gutierrez também considera que haverá um ganho para o país se o governo conseguir frear o crescimento dos gastos correntes: - Como o PIB vai crescer ainda 4,5%, 5% neste ano, o governo não precisa cortar em termos nominais a despesa, basta que ela cresça abaixo do PIB.

Já o professor do Departamento de Ciências Contábeis da Universidade de Brasília (UnB), Roberto Piscitelli, tem uma visão cética sobre as medidas anunciadas. - O que eu acho é que há uma pressão muito grande do mercado no sentido de assegurar a obtenção e, até se for o caso, ultrapassar a meta de superávit primário.

Mas, na realidade, nós não vamos gastar menos. À medida em que a Selic continuar aumentando, vamos gastar tanto ou mais para pagar juros - afirmou.

Margarida explicou que o avanço do corte sobre investimentos era previsível.

Serão R$ 18 bilhões neste ano, segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega. - O governo não tem tanta manobra para cortar, porque o orçamento é muito engessado.

Cerca de 90% é com despesa obrigatória - disse.

Tão importante quanto reduzir o ritmo dos gastos é ter um sistema mais rigoroso de controle das despesas.

Só assim, defendem os especialistas, o governo conseguiria uma gestão mais eficiente e não haveria necessidade de medidas imediatistas. - Esse esforço que o governo está prometendo não é um programa de governo.

Ele tem que fortalecer o sistema de auditoria e de controle dos gastos.

Esses cortes não vão melhorar a qualidade do gasto público - disse Piscitelli, que questionou a decisão de cortar recursos para diárias e passagens aéreas: - Tem que existir uma rotina, normas e mecanismos de acompanhamento que evitem possíveis desperdícios.