Roberto Maltchik, em O Globo PARAGOMINAS (PA) - No último maciço de Floresta Amazônica em direção ao interior do Brasil, na divisa dos estados do Pará e do Maranhão, a ilegalidade prospera e dilapida o que deveria ser um santuário ecológico.

O mosaico formado pela Reserva Biológica do Gurupi (MA) - área de preservação permanente - e três terras indígenas é povoado por madeireiras; agora, o Ibama identificou que o plantio de maconha também ressurge na área, após anos de trégua.

A reserva biológica, unidade que, em tese, deveria ser intocada, transformou-se nos últimos anos em uma imagem esburacada, em que a extração ilegal de madeira é a principal fonte de renda para centenas de trabalhadores da região.

Não é à toa que, entre os fiscais, a área é considerada um “barril de pólvora”.

Há quatro anos, a cidade de Buriticupu (MA), uma das principais rotas para o escoamento da madeira ilegal, foi cenário para um confronto sangrento, com uma morte e dezenas de feridos, durante operação de combate ao desmatamento.

Em 2010, das 30 serrarias fiscalizadas na cidade, 80% eram clandestinas.

Agora, a fiscalização identificou novos clarões de desmatamento encravados na reserva biológica. “Naturalmente, esse deveria ser um local intocado. É o último maciço florestal, que está sendo dilapidado pelas madeireiras ilegais situadas no entorno”, afirma o coordenador de Operações do Ibama, Roberto Cabral.

Não bastasse o crime ambiental, cuja a pena varia de um a cinco anos de reclusão, o desmatamento é alimentado pela crise fundiária e pela produção de maconha.

No Pará, o local está se transformando numa das maiores áreas para o plantio de maconha. É área de tráfico e consumo da droga.

Essa é uma das regiões mais perigosas para a fiscalização - explica o superintendente substituto do Ibama no Pará, Alex Lacerda.

Apesar da tensão e da fragilidade da reserva de 272.349 hectares, apenas cinco fiscais do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio) e dez policiais militares do Maranhão protegem permanentemente a área.

Esporadicamente, o Ibama atua na região.

Porém, o próprio órgão admite que não tem capacidade operacional para fazer valer a inviolabilidade da terra protegida por lei.