Por Luciano Siqueira Dilma é diferente de Lula – proclamam “analistas” de todos os matizes, como se estivessem a descobrir algo surpreendente.

Na verdade, usam do artifício para acentuar o que entendem por posturas conservadoras da presidenta, em seu primeiro mês de gestão.

Mais: reforçam a pressão para que não se altere a política macroeconômica.

Pelo sim, pelo não está muito cedo para julgar o novo governo.

Mas é certo que uma quebra de braço se estabeleceu entre a presidenta e o movimento sindical, tendo como mote o reajuste do salário mínimo, na qual estão contidos dois dilemas.

Um é o dilema do governo, com todas as suas implicações sobre o processo de desenvolvimento do país e o quinhão que cabe aos trabalhadores.

O gabinete presidencial se mantém inarredável na elevação do salário mínimo para apenas R$ 545,00, enquanto os trabalhadores insistem em R$ 580,00.

Na base da polêmica, ao lado de querelas técnicas, está a transferência de renda da parte da sociedade que detém o capital e disso se vale para explorar a parte que dispõe apenas de sua força de trabalho e necessita melhorar a sua massa salarial.

Os argumentos do governo não ultrapassam os limites da armadilha juros altos-metas inflacionárias-cambio sobrevalorizado e da eterna ameaça de falência da Previdência.

Os sindicalistas, por seu turno, reclamam que é possível intensificar o desenvolvimento, distribuir renda, valorizar o trabalho e ao mesmo tempo manter a inflação dentro de limites tecnicamente adequados.

O assunto vai à decisão do Congresso Nacional, onde o governo tem folgada maioria e certamente vai exercê-la, vencendo a peleja.

Todavia o alcance da pressão das centrais sindicais vai além da conquista ou da derrota imediata, contribui para introduzir um elemento novo na cena política – que nos oitos anos de Lula se fez atenuado –: o co-protagonismo dos trabalhadores.

Em certa medida essa postura dos sindicalistas carrega também um dilema.

Um bom dilema, sublinhe-se: pressionar o não o governo aliado?

A resposta positiva fortalece a compreensão de que em toda aliança cabe a relação de unidade e luta.

Vale para os sindicatos e para os partidos políticos da base aliada.

A atitude propositiva e ao mesmo tempo crítica por si mesma não enfraquece o governo, nem necessariamente desgasta a presidenta.

Ao contrário, pode reforçar no seio do próprio governo as forças desenvolvimentistas e enfraquecer os que teimam em enxergar os desafios do país sob ótica monetarista.

Então, saudemos a diferença entre os governos Lula e Dilma pela emergência desse elemento novo.

A postura mais ativa dos trabalhadores organizados e do movimento social em geral tem valor imediato e estratégico.