Eduardo Militão, do Congresso em Foco A Câmara vota nesta quarta-feira (15) o valor do salário mínimo para 2011 e a política de reajustes do piso até 2015, o primeiro grande desafio do governo Dilma Rousseff (PT) no Congresso.
A expectativa entre líderes da base aliada e até da oposição é de que o governo vença o embate, consiga aumentar o mínimo para R$ 545 e colocar em lei reajustes anuais que considerem a inflação e o crescimento do PIB, o que levaria o piso para R$ 616 no ano que vem.
Com isso, sairiam derrotadas as centrais sindicais, que prometem pressionar até o último momento por um mínimo de R$ 560, e a oposição, que ainda tenta ampliar o número de dissidentes entre os governistas. “Se fosse hoje [ontem, 15], o governo ganhava”, disse o ex-líder do DEM Onyx Lorenzoni (RS).
O líder do PSDB, Duarte Nogueira (SP), afirmou ignorar se será desta vez que as insatisfações na base levarão a uma derrota de Dilma.
O líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), apostou em uma vitória tranquila e folgada. “É R$ 545.
Não vai ter surpresa nenhuma”, afirmou ele ao Congresso em Foco depois da reunião com os aliados, na qual identificou que só PDT e o PSB não estariam de braços dados com os dilmistas.
O clima nos bastidores na Câmara ontem não refletia os sindicalistas que foram à Casa protestar por um salário maior, enquanto vaiavam a presença do ministro da Fazenda, Guido Mantega, no plenário para debater o piso com entidades sindicais e dos municípios.
Os motivos da provável vitória de Dilma no Congresso incluem o temor dos parlamentares da base em brigarem com o Executivo, perdendo a indicação de aliados para o segundo escalão e a liberação das emendas.
Eles avaliam ainda que os problemas enfrentados por eles no momento não é tão grande a fim de merecer “dar um recado” a Dilma pelos cortes orçamentários ou o represamento de nomeações de apadrinhados.
Com o salário mínimo elevado nos últimos anos acima da inflação e com a perspectiva de superar os R$ 600 daqui a dez meses, seria gastar energia à toa.
Eventuais perdas com o eleitorado ainda poderiam ser compensadas daqui a um ano meio, antes das eleições municipais. “Eu ganhei muitos votos com essa política do salário mínimo”, acrescentou o líder do PMDB, Henrique Alves (RN). “A proposta dos R$ 560 é boa, mas tem de saber se o governo vai achar isso.
Como a gente é governo, tem de acompanhar o governo nas alegrias e na dor”, disse o líder do PR na Câmara, Lincoln Portela (MG).
O vice-líder do PMDB Gastão Vieira (MA) é um dos que defendem o fim das brigas com o governo para não azedar a relação com Dilma e os petistas. “O partido está com os cargos em cima da mesa, já teve esse contencioso com o Eduardo Cunha [PMDB-RJ], aí o partido vem aqui e divide no meio com o vice-presidente da República, articulando e votando contra o salário mínimo?”, analisou ele.
O “contencioso” ao qual Gastão se refere foi a negativa de Dilma a aceitar a indicação do deputado fluminense para o comando de Furnas.
Do lado petista, há mais do que a convicção de que os aumentos futuros estão garantidos.
Na reunião da bancada que decidiu o apoio ao mínimo de R$ 545, houve o alerta de que entrar em uma briga por R$ 15 a mais seria municiar a oposição contra a presidente Dilma, minando sua popularidade. “Se o voto contrário a esse mínimo significa dizer que a Dilma não é comprometida com quem ganha salário mínimo, isso é uma coisa que não pode passar simbolicamente na disputa política”, avaliou o ex-líder do governo Henrique Fontana (PT-RS).
Dissidências Segundo as estimativas dos líderes ouvidos pelo Congresso em Foco na terça-feira, o governo terá 300 votos ou até mais a favor dos R$ 545.
A proposta das centrais sindicais, de R$ 560, teria uma votação em torno de 200 votos, num cálculo mais otimista.
A possibilidade de aprovação da emenda de R$ 600, proposta pelo PSDB, é considerada “remota” pelo líder tucano Duarte Nogueira.
Até ontem, as dissidências entre os governistas estavam localizadas nos 27 deputados do PDT e em parte do PSB.
Ainda havia um grupo de até 18 parlamentares do PMDB, sendo quatro do Rio de Janeiro, e no bloco comandado pelo PR.
Entretanto, todas essas posições podem mudar até as 14h, quando começa a sessão extraordinária para votação do projeto do piso salarial.
Inúmeras reuniões promovidas pelas centrais e pelos aliados fiéis ao governo ainda pretendem seduzir os colegas. “Eu vou atrás de votos, vou atrás do PR e de outros, jantar e tomar café com deputados”, contou Paulinho da Força (PDT-SP), presidente da Força Sindical e um dos principais articuladores das centrais na Câmara. “Tem muita água para passar debaixo da ponte”, afirmou outro sindicalista, o vice-presidente da UGT, deputado Roberto Santiago (PV-SP).
A oposição disse que lutaria até o fim apesar das chances remotas. “O governo sempre é favorito, mas vamos conversar.
Eu ouvi dois deputados da base apoiando os R$ 560”, disse o líder do DEM, ACM Neto (BA).
Ele afirmou que os colegas não eram do PDT.
Henrique Eduardo Alves ainda trabalhava para convencer o restante da bancada do PMDB a votar 100% com o governo.
Jovair Arantes (GO), líder do PTB, e Lincoln Portela (MG), do PR, atuavam ainda para reduzir o índice de infidelidade em suas bases.
Entre os argumentos usados por eles estará a desnecessidade de se brigar com o governo Dilma logo no início do mandato.
A votação está marcada para as 14h em sessão extraordinária.
O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), acredita que a decisão sairá ainda hoje.
Ele arrisca que o governo vai vencer com a proposta dos R$ 545. “Há boas chances.
Não há um clima de rebeldia na base”, disse o presidente da Casa.