BlogImagem/Reprodução O professor Jorge Luis de França Silva, secretário-geral da escola Clídio Nigro, uma escola estadual em Olinda, na divisa com o Recife, tem uma nova função, informal, depois de mais de 20 anos de magistério.

A pedido da mãe de uma das alunas, ele deve vigiar uma garota de 13 anos, muito bonita, estudante do turno da manhã, que acabou o namoro recentemente com outro garoto da mesma escola. “A mãe teme que a menina seja vítima de alguma violência.

O namorado teria envolvimento com drogas.

Não sei se é verdade, mas ele já chegou aqui na escola com um revólver 32 dentro da bolsa, ameaçando matar outro estudante (por ciúmes)”, revela. “A realidade das escolas é um caso sério.

Hoje em dia, com essa história de crack, os garotos se destacam na rua com a arma.

Em busca de algum status, tem garotas que acham o máximo”, acredita.

Por ciúmes, em julho do ano passado, a mesma escola foi abalada por uma morte trágica, envolvendo dois jovens.

Luana Ferreira de Moraes, de apenas 14 anos, foi morta a tiros, pelo namorado Luecildo José dos Santos, de 15 anos. “Segundo os colegas, ela não queria mais o relacionamento.

A escola ficou chocada.

Ela era muito jovem, bem alegre, adorava dançar suingueira (estilo de música de letra fácil com coreografias recheadas de malícia) e aluna assídua”.

O jovem agressor foi preso pela Polícia Civil do Estado e cumpre pena sócio-educativa.

Luana fazia a 6ª série do ensino fundamental no colégio.

Conheceu o namorado Luceíldo, que morava na mesma rua que ela, no colégio municipal Mário Melo, em Campo Grande, no Recife, onde havia concluído o ensino primário.

As duas escolas ficam em áreas pobres e violentas do Recife.

O nome da escola olindense é uma homenagem ao fundador da tradicional troça carnavalesca Elefantes, de Olinda, que só lembra festa e alegria.

Na comunidade de Saramandaia, nome de novela da Globo, Luciana Ferreira, de 20 anos, a irmã mais velha de Luana, mesmo negando que haja violência nas escolas, conta que é ‘normal e comum’ meninos e meninas ‘saírem no tapa’ na escola.

Mãe de dois filhos aos 20 anos, a mais nova com um ano e sete meses de vida, Luciana parou de estudar na sétima série.

Uemerson Ferreira, de 15 anos, ainda estuda na mesma escola que a irmã Luana frequentava. “Minha mãe ainda chora de saudade.

Ela ajudava em casa (nas tarefas domésticas)”, conta.

A mãe Márcia Ferreira Silva evitou falar do incidente.

BlogImagem Violência entre os jovens Um estudo do professor José Maria Nóbrega Júnior, cientista político da UFPE, sobre a violência no Nordeste mostra que os jovens pobres e negros são os maiores alvos da violência no Estado.

Veja, em especial, o tópico abaixo. 1.1 Os homicídios em Pernambuco: a dinâmica das mortes letais intencionais O estado de Pernambuco vem demonstrando impacto significativo nos indicadores de violência no Brasil nos últimos 11 anos.

Está entre os primeiros do ranking nacional, apresentando altas taxas de homicídios.

Desde 1998 vem tendo uma média de mais de 4.400 mortes por agressão computadas nos dois bancos de dados disponíveis, o SIM e o Infopol/SDS (PE).

Aqui será desenvolvida a dinâmica e análise das variáveis independentes (faixa etária, arma de fogo, etc.) de mortes por agressão (homicídios) para Pernambuco, tendo como referência empírica o SIM .

Entre 1990 e 1993, há queda nas taxas de homicídios em Pernambuco.

Em 1994, a taxa sai do patamar de 37,6 homicídios por cem mil habitantes do ano anterior e cai para 36,4.

O período crítico engloba os anos de 1994 a 1998.

O estado apresenta uma “explosão” nas taxas de homicídios por cem mil habitantes.

Estas saltam de 34,9 para 58,9 entre os anos de 1994 e 1998, quase dobrando as taxas de homicídios no estado.

De 1998 a 2008, Pernambuco apresenta uma tendência à estabilidade, como pode ser visto no gráfico acima.

Não obstante, a média de mais de 4.400 mortes, com as taxas oscilando entre os 50 e 60 por cem mil, nos últimos dez anos (1998 a 2008), é preocupante .

Sabe-se que a maioria dessas mortes tem fortíssima relação com a disponibilidade de armas de fogo (SOARES, 2008).

Portanto, é de fundamental importância avaliar o impacto dessa variável nas mortes por agressão.

Há significativa relação entre mortes por agressão/homicídios provocadas por arma de fogo e a faixa etária. É visível que entre 1 e 14 anos de idade tal impacto é insignificante.

Portanto, a partir dos 15 anos a vitimização por arma de fogo é crescente.

O grupo de maior risco está entre os 15 e 39 anos de idade, com destaque para o de 20 a 29.

Para 2007, por exemplo, foram 1.638 mortes no grupo dos 20 aos 29 anos de idade, correspondendo a 44% do total das vítimas assassinadas por arma de fogo (de um total de 3.706 mortes registradas no período).

No mesmo ano, foram 4.556 pessoas assassinadas, das quais mais de 80% vitimadas por arma de fogo.

Os homicídios provocados por objetos cortantes ou penetrantes correspondem a pouco mais de 10% do total de mortes por agressão no estado, demonstrando ser fator importante, pois os números absolutos de pessoas mortas por objetos com tais características são altos.

Por exemplo, os anos de 1998, com 521 mortes desse tipo, 2004 com 469 e 2006 com 473, foram responsáveis por 10% a 12% do total dos homicídios do estado (SIM/DATASUS, 2008).

Os números de mortes por meio de objetos contundentes são relativamente altos.

Correspondem a aproximadamente 5% do total de mortes por agressão em Pernambuco e vêm sofrendo um incremento bastante significativo nos últimos anos.

O período de 2002 a 2005 é significativo para o crescimento desse tipo de agressão, quando resulta em óbito da vítima.

Houve uma pequena queda, em 2006, mas ainda assim as mortes superam as 270 vítimas.

Pode haver alguma relação com o Estatuto do Desarmamento, que vem retirando armas de fogo de circulação desde 2003, talvez implicando um incremento maior da utilização de outras formas de “armas” (objetos cortantes, penetrantes ou contundentes) .

Objetos cortantes/penetrantes e/ou contundentes foram utilizados em agressões que resultaram em óbito da vítima em média de 15% dos homicídios em Pernambuco (SIM/DataSUS, 2008).

Os homens são os mais vitimados.

A média de homicídios masculinos para o período de 1996-2007 foi de 3.953 assassinatos.

Contudo, não é de desprezar a violência contra a mulher, que tem a média de 278 mortes para a série temporal de 1996 a 2007.

O sexo masculino corresponde em média a 90% dos casos de vítimas de agressão.

As mulheres ficam em torno de 8% a 10% dos casos (NÓBREGA JÚNIOR, 2009a).

A relação da cor parda/preta (negros) com as mortes por agressão é significativa.

Para reforçar essa afirmação, a taxa de pardo/preto para o ano de 2000 foi de 69 homicídios por cem mil habitantes dessas categorias, enquanto a população total teve uma taxa de 54,2 (NÓBREGA JÚNIOR, 2009a, p. 245).

Avaliando-se os dados de 2006, vê-se que, em termos de números absolutos, os pardos e pretos (negros) são vitimados em 84,5% dos óbitos por agressão.

Em segundo lugar vem a etnia/cor de pele branca, com 8,5%.

Em terceiro, a etnia/cor de pele preta, com 2% dos casos (2006).

E as etnias/cor de pele amarela e indígena apresentam diminutos impactos.

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