Amanda Costa, do Contas Abertas Em meio ao apagão que atingiu o Nordeste na última semana, dados divulgados pelo Ministério do Planejamento apontam que, no ano passado, o governo federal deixou de investir quase R$ 3 bilhões do orçamento previsto para o setor elétrico.

O Grupo Eletrobrás, que emprega atualmente 27 mil funcionários e é composto por 15 empresas, aplicou R$ 5,2 bilhões em 2010.

A cifra corresponde a uma execução de 65% ante os R$ 8 bilhões autorizados em orçamento.

Desde 2000, um ano antes da primeira grande queda de energia no Brasil, cerca de R$ 23,9 bilhões deixaram de ser investidos pela estatal – já descontada a inflação acumulada no período.

Desde 2000, o desempenho dos investimentos do grupo Eletrobrás ficou, em média, em 68%.

Significa que as empresas não investiram 32% dos recursos autorizados no orçamento em 11 anos.

A pior performance foi em 2007, quando dos R$ 6,4 bilhões previstos somente R$ 3,7 bilhões (57%) foram desembolsados.

Por outro lado, o melhor resultado de desembolso sobre o montante previsto foi verificado em 2002, quando o percentual chegou a 80%.

Para este ano, estão previstos R$ 8,1 bilhões para investimentos no setor elétrico pela estatal, a maior verba já registrada para o setor.

Entre as empresas que integram o grupo, encarregado das atividades de pesquisa, geração, transmissão, distribuição e comercialização de energia no país, estão a Centrais Elétricas do Norte do Brasil (Eletronorte), a Eletrosul Centrais Elétricas, a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), a Eletrobrás Termonuclear (Eletronuclear) e Furnas Centrais Elétricas.

Segundo a assessoria de imprensa Eletrobrás, os investimentos realizados pelas empresas do grupo não estiveram dentro do esperado.

A meta era aplicar cerca de 84%, percentual bem acima dos investimentos efetuados em 2009, quando a execução girou em torno de 75%, com R$ 5,2 bilhões desembolsados.

A estatal atribuiu a não aplicação da totalidade dos recursos previstos no orçamento de 2010 a eventos como o “atraso de concessões de algumas licenças ambientais e de instalações de canteiros, somadas à falta de mão de obras especializada em algumas regiões”.

Ainda segundo a companhia, de forma geral, a programação de investimentos não foi prejudicada mesmo após o não cumprimento da meta de execução.

Contudo, ressalta que o desenvolvimento do programa Luz Para Todos foi atrasado nos estados do Piauí e Rondônia, o que deverá ser recompensado neste ano.

Entre as conquistas da estatal no ano passado, destacam-se a retomada das obras de Angra 3 e a retirada da Eletrobrás do cálculo do superávit primário.

Por outro lado, para o presidente do Instituto Acende Brasil, Claudio Sales, nos últimos anos, é gigante a distância entre o prometido para investimentos e o que, de fato, a Eletrobrás realiza. “Não é uma questão conjuntural, este problema vem de longa data”, avalia. “Para uma empresa do porte da Eletrobras, o volume de investimentos é baixo.

A grande preocupação, e que deveria ser permanente, está voltada para a geração de valores, baseada em princípios elevados de governança corporativa.

Lamentavelmente, este não tem sido o caso”, completa.

Furnas Furnas Centrais Elétricas é uma das maiores empresas do grupo Eletrobras e foi responsável pelo maior aporte de recursos aplicados no ano passado.

Da quantia prevista para 2010, orçada em quase R$ 1,7 bilhão, o total de R$ 1,2 bilhão foi desembolsado, ou 77% do valor autorizado.

A empresa está presente no Distrito Federal e nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Paraná e Rondônia.

Furnas gerencia as linhas de transmissão que ligam a hidrelétrica Itaipu ao Sistema Interligado Nacional (SIN) que, devido à queda de três linhas, provocou o apagão que atingiu 18 estados em novembro de 2009.

Ontem, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) manteve multa de R$ 43,4 milhões a Furnas por conta das falhas que culminaram no apagão.

A agência recusou recurso interposto pela empresa contra a multa, inicialmente estipulada em mais de R$ 50 milhões.

Não cabe mais recurso.

Apagões Após o recente apagão no Nordeste, a Eletrobrás divulgou nota em que atribui o blecaute a “um defeito no componente eletrônico denominado ‘cartela’, que teria acionado, indevidamente, o sistema de proteção da linha de transmissão que interliga as usinas Luiz Gonzaga, no município de Jatobá (PE), e Sobradinho (BA).

Assim, ocorreu o desligamento da subestação Luiz Gonzaga e sete estados do Nordeste foram afetados com interrupção de energia.

A presidente Dilma Rousseff, que já foi ministra de Minas e Energia no governo Lula, não concordou com a alegação e realizou ontem uma reunião emergencial no Palácio do Planalto para discutir as causas do apagão.

Ontem foi a vez de São Paulo ficar às escuras.

Mais de dois milhões de pessoas ficaram sem energia na capital paulista.

O blecaute atingiu, principalmente, as zonas sul e oeste da cidade.

De acordo com uma nota oficial divulgada pela Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (CTEEP), o problema foi causado por uma falha em um transformador da subestação Bandeirantes.

Assim, o sistema de proteção foi ativado e, consequentemente, outros dois transformadores foram desligados.

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, determinou que a Secretaria Estadual de Energia e a Fundação Procon-SP convocassem “imediatamente” a AES Eletropaulo e a CTEEP para prestar esclarecimentos.