João Valadares, do Jornal do Commercio “Passa uma língua na outra, vai.
Bota a língua para fora, rapaz.
Que coisa linda o casal.” A ordem é emitida por policiais a dois suspeitos, presos numa delegacia.
Humilhação, preconceito e homofobia com carimbo oficial.
No filme da vergonha, postado na internet, o massacre moral vai além.
Os detidos são chamados de macacos e obrigados a dizer que se amam por agentes do Estado.
Um policial de capuz, com a farda do Batalhão de Radiopatrulha, aparece ao fundo.
Na manhã de ontem, o JC mostrou as imagens ao secretário de Defesa Social, Wilson Damázio.
Visivelmente constrangido, disse que não tinha conhecimento do vídeo, postado em julho do ano passado, e assegurou que todos os envolvidos serão identificados, submetidos ao rigor da Corregedoria para que sejam responsabilizados e expulsos da corporação.
O caso veio à tona no momento em que uma ação desastrosa da Polícia Militar, na qual um cinegrafista amador conseguiu flagrar dois suspeitos de assalto sendo torturados, à beira-mar de Piedade, Jaboatão dos Guararapes, Grande Recife, ganhou o Brasil e envergonhou Pernambuco.
Logo no início, a ordem é clara. “Encostado, vai.” Humilhado, um dos suspeitos se aproxima do outro e encosta a boca nele.
A sessão de tortura psicológica não para.
A risada dos policiais é combustível para a humilhação continuar.
Não satisfeitos, determinam que os dois se beijem novamente.
Vários celulares filmam tudo. “Os dois.
Coloque a língua.” No fim, uma nova determinação. “Não vi não.
Novamente, vai.
Passa uma língua na outra.” Na página do You Tube - site de compartilhamento de vídeos, muitos usuários deixaram comentários aplaudindo a prática policial.
Um deles diz que os policiais merecem aumento de salário.
Outros repudiaram.
O caso não é isolado.
Em 2008, o Jornal do Commercio denunciou que policiais da Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas (Rocam) também obrigaram dois suspeitos a se beijarem. “Bora, beija de língua”, ordena.
Entre um beijo e outro, o policial pede para que eles cantem o refrão “a Rocam é f..” O mesmo verso é ouvido em outro vídeo, também postado em 2008 e divulgado pelo JC.
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