Por Carlos Cardoso Filho A matéria publicada na página 3 do caderno de economia do Jornal do Commercio de ontem (02/02/2011), sob o título “Sindicato denuncia demissões na TCA”, trouxe à cena a realidade de exploração e de opressão em que vivem os operários que pegam na “massa” do desenvolvimento de Pernambuco.
Com as lentes e as letras sempre voltadas para as imagens e os textos que ressaltam a explosão produtiva do estado, a imprensa tem tido pouca oportunidade para entrar um pouco mais nos pátios, galpões, linhas de produção e canteiros de obras.
Nesses locais de produção, o Pernambuco pós-moderno da pujança econômica, por vezes, faz-nos lembrar da exploração do trabalhador vivida no Brasil colônia, na França pré-revolucionária e na Inglaterra do início da industrialização.
As demissões de dirigentes sindicais e de operários lesionados licenciados revelam o grau de indiferença por parte dos patrões às normas que regulam as relações de trabalho, e demonstram que o “novo capital” que aporta em Pernambuco apenas possui casca de modernidade, pois, em essência, é velho e ultrapassado no modo de operar.
Se sob a ótica do novo modelo de produção, de desenvolvimento e de inclusão, abrimos o nosso mercado à entrada dos investimentos internacionais, é imprescindível que sejam garantidos aos nossos trabalhadores a dignidade e o respeito na medida necessária a não nos envergonharmos lá fora.
O que pensa, por exemplo, a imprensa internacional a respeito de fatos como esses que têm ocorrido com os operários pernambucanos?
Sabemos que a exploração é mais fácil quando o capital desembarca em terras de longa dominação e de histórica exclusão.
Para um camponês que penava no corte da cana-de-açúcar qualquer nova forma de sofrimento pode lhe parecer até prazerosa.
Vestir um uniforme (macacão) com a marca da empresa e ver, na televisão e nos jornais, que trabalha em um desses novos empreendimentos geram um orgulho que pode ser capaz de abafar qualquer sentimento de estar sendo explorado, humilhado ou subjugado.
Os sindicatos precisam se preparar para essa nova realidade de luta, pois a conscientização agora exige não apenas articulação e esclarecimento.
Percepção de contexto regional, nacional e internacional, psicologia e valorização humana passam a ser ferramentas indispensáveis para a garantia do respeito e da dignidade nas relações de trabalho.
Na Inglaterra do século XIX, o “Cartismo” foi um movimento que reivindicava reformas nas condições de trabalho através da “carta do povo”.
Em Pernambuco no ano 2011 do século XXI, além de contarmos com uma imprensa livre, contamos com a velocidade da internet e com o espaço democrático dos blogues.
O grito chega mais rápido, e mais gente o ouve ao mesmo tempo.
Participar é o remédio.
Nas idas e vindas do desenvolvimento econômico do Brasil, oportunidade nunca costumou gerar inclusão duradoura, crescimento econômico nunca costumou gerar aproveitamento de todos, e geração de riqueza sempre se apoio em forte exploração.
Como as conquistas da classe trabalhadora nunca se deram a partir da benevolência e da generosidade dos donos do capital, disposição para lutar continua a ser a única forma de evoluir.
Nisso o pernambucano sempre foi um arretado.
PS: Carlos Cardoso Filho é Auditor Tributário do Ipojuca e Integrante da Associação Pernambucana dos Fiscos Municipais – APEFISCO