Do Blog do Carlos Britto Três dias depois do acidente com uma van num trecho da PE-060, a 15 quilômetros de Ouricuri (PE), no Araripe, que deixou sete mortos e 21 feridos, o presidente da Associação Sertaneja de Transporte Complementar (Astral), Antonio José de Araújo (foto), fez revelações aterradoras sobre a tragédia.

Segundo Araújo, o motorista – que era vinculado à Astral – saltou antes da van capotar, ao perceber que tinha perdido o controle do veículo.

José dos Santos Oliveira fraturou os dois joelhos e está internado em um hospital de Petrolina, onde passa por uma cirurgia.

Mas o pior aconteceu ao ajudante Marcos Antonio, que trabalhava com o motorista.

Um dos sobreviventes do acidente, Marcos acabou sendo linchado por populares ainda quando estava preso às ferragens do veículo, por ter sido responsabilizado pela tragédia. “Como o motorista saltou, mesmo ferido ele foi até o hospital de Ouricuri pedir socorro, mas omitiu que vinha dirigindo a van, porque teve medo de ser linchado também”, conta Araújo.

O presidente da entidade revela, ainda, que a revolta de familiares das vítimas por pouco não causa nova tragédia.

Segundo ele, a casa da família de Marcos chegou a ser invadida.

O alvo seria a esposa e o filho de Marcos, que provavelmente teriam o mesmo destino que ele, mas alguns vizinhos conseguiram evitar o pior, levando os dois para outro local.

Sobre o acidente, Araújo admitiu o excesso de passageiros na van – que tinha capacidade para 21 passageiros, mas levava 27. “Temos um fiscal que controla a saída dos veículos, mas durante o trajeto muitos ajudantes acabam aceitando dinheiro para colocar mais passageiros”, justifica.

Ele chamou atenção para o que considera “falhas graves” em relação ao uso do cinto de segurança.

Baseado em fotos do acidente, o presidente da entidade acredita que o ajudante Marcos e uma passageira no banco da frente, que também morreu, não usavam o cinto, porque ambos vieram parar do lado do motorista, que havia saltado do veículo.

Outros passageiros nos bancos de trás também estariam sem o dispositivo de segurança, conforme o presidente da Astral.

Ele negou também que o condutor tinha ingerido bebida alcoólica, já que as vítimas vinham de uma festa tradicional de Ouricuri, com destino a Petrolina.

Mas reconheceu ter recebido informações de que Marcos havia bebido.

Araújo fez questão de ressaltar que os familiares dos envolvidos na tragédia terão toda a cobertura jurídica da associação, incluindo as indenizações – que chegam a R$ 14 mil por vítima.

Ele deixou claro também que o condutor da van admitiu ter cochilado ao volante e está pronto para depor.

Ele será processado judicialmente.

A entidade já pensa em providenciar itens como câmeras internas nos veículos, para monitorar o trabalho dos ajudantes durante o percurso das viagens.

A única contestação feita por Araújo diz respeito à seguradora, que se recusa a pagar os prejuízos materiais do veículo por ter tomado conhecimento de que o condutor da van, no momento da tragédia, era Marcos (que não tinha habilitação). “Temos depoimentos de testemunhas afirmando que não era o ajudante, e sim o motorista que estava ao volante”, completou.