Do JC Online Morar entre duas cidades e não ter o apoio de nenhuma delas. É dessa forma que milhares de pessoas que se espremem entre os municípios de Olinda e Recife se sentem.

Apertados em problemas, esperam que uma solução seja tomada para melhorar um pouco a forma de moradia.

Estão cansados de ver o jogo de empurra-empurra entre a capital e sua irmã. “A gente até procura ajuda, mas uma hora cansa.

Vou na Prefeitura de Olinda, dizem que o problema tem que ser resolvido por Recife.

Vou até Recife, me jogam de volta para Olinda”, reclama o autônomo Cícero de Souza Rocha, 36 anos.

Ele mora há cinco anos, junto com a esposa e três filhos, em uma pequena casa de alvenaria na Rua do Cajá, em Passarinho. “Mas não sei em qual lado de Passarinho”.

O bairro está localizado uma parte em Olinda e outra, no Recife.

A aflição de Cícero aumenta com o iminente risco de desabamento das barreiras que ficam próximas a casa dele.

São duas. “Procuro a defesa civil das duas cidades, mas ninguém nos atende.

O inverno vem por ai.

Tenho a impressão que, apenas quando a barreira cair, vai ser dada uma solução”, lamenta.

Cícero conta que a Prefeitura de Olinda colocou lonas plásticas em barreiras próximas à casa dele, mas que não colocou nos outros locais sob a alegação de que pertencia a Recife.

Outro problema enfrentado por quem se divide entre as duas cidades diz respeito à coleta de lixo.

Muitos moradores contam que, do lado de Olinda, o recolhimento de dejetos demora entre quatro e cinco dias. “Fica uma imundice.

Do lado de Recife, é tudo arrumado.

Mas pode passar pelas ruas de Olinda e ver como há déficit”, reclama a doméstica Ana Lúcia Souza, 35 anos.

Ela mora no Alto da Bondade, bairro de Olinda que faz limite com Recife.

Na Rua da Linha, próximo de onde ela reside, andar pela rua requer habilidade para livrar dos obstáculos.

A dificuldade de coleta de lixo encontrada em Passarinho é menos impactante em Peixinhos, outro bairro dividido entre Recife e Olinda.

Nesse bairro, cada prefeitura cumpre suas atribuições como coleta de lixo no lado que lhe compete.

A Prefeitura de Olinda, dizem os moradores, vai além.

Se queima uma lâmpada em poste no canteiro central - que pertence, em tese, aos dois municípios - é a gestão olindense que resolve o problema.

Na verdade, o que define o limite entre Recife e Olinda no bairro de Peixinhos é um canteiro mal cuidado na Avenida Jardim Brasília.

Ao ficar de costas para a Avenida Antônio da Costa Azevedo, o lado esquerdo do canteiro é Recife, o lado direto, Olinda.

A clareza da delimitação do território traz tanto aspectos positivos quanto negativos.

Assim como no caso de Passarinho, Peixinhos carece de alguns problemas que não são resolvidos por nenhum dos municípios.

A “avenida limite”, por exemplo, é praticamente toda de barro.

Apenas um trecho recifense, em frente ao Nascedouro de Peixinhos, sabe o que é asfalto.

Mas a dificuldade considerada mais absurda por quem mora em Peixinhos está na área da saúde.

No lado recifense da Avenida Jardim Brasília está o posto de saúde da família Professor Francisco Areias, que atende apenas moradores da capital.

Os olindenses do outro lado da rua não recebem atendimento.

Precisam caminhar cerca de m quilômetro por ruas esburacadas e enlameadas para buscar atendimento na Unidade de Saúde da Família Cohab Peixinhos.

Segundo a Prefeitura do Recife, o posto da capital é exclusivo para moradores do Recife.