Por Débora Duque, no JC deste domingo Alô Recife, ele voltou!

Após dois anos afastado do plenário da Câmara Municipal – ou no “exílio consentido”, como denomina o período – Liberato Costa Júnior (PMDB), o último dos chamados “coronéis do asfalto”, retorna à Casa de José Mariano para cumprir seu décimo mandato como vereador.

Aos 93 anos, carrega na bagagem mais de meio século dedicado ao Recife em forma de projetos de lei e declarações de amor constantes.

Traído pelo sistema proporcional de votação, Liberato não conseguiu se reeleger em 2008, mesmo conquistando 6.959 votos e, por isso, ficou sem gabinete de vereador após 24 anos consecutivos no Legislativo municipal.

A derrota – a primeira de sua trajetória política – comoveu colegas de Câmara e a si próprio.

Mas terminou recebendo como prêmio de consolação o cargo de assessor especial da Casa.

Por isso, não considera seu novo mandato um “regresso”, mas a “continuação” de um relacionamento eterno com a capital pernambucana. “Vou com o mesmo espírito que tinha quando cheguei em 55”. É a sua promessa.

Na condição de fundador do PMDB, Liberato substituirá Gustavo Negromonte na bancada de oposição. “Mas não serei nunca contra o Recife.

Não faço política contra o Recife”, ressalta, como um mantra.

Entre seus novos planos legisaltivos está a proposta de criação de uma faculdade pública gerida pelo município e do pedido bimensal sobre os eventuais excessos de arrecadação na administração do Recife.

Ele também quer compreender melhor qual será o impacto da Copa de 2014 na cidade, além de requerer vistorias à Codecir - órgão municipal de defesa civil que criou - nos viadutos e pontes. “Não se fazem mais essas vistorias”, lamenta, temendo consequências em forma de tragédias.

Mesmo estando cheio de ideias na cabeça, o papel de coadjuvante a que vem sendo relegado o Poder Legislativo o desecanta, assim como o “rolo compressor” governista, que não costuma conceder espaço efetivo às vozes dissonantes. “É um procedimento da inhaca do poder.

Hoje não existe mais (nos Legislativos) aqueles grandes debates de convencimento.

Você passa meia hora numa tribuna e seu argumento não vale de nada. Às vezes você tem um projeto interessante para a cidade, mas o rolo (compressor) destrói. É anti-democrático”, analisa.

Ao longo dos mandatos, Liberato lembra os prefeitos que melhor se relacionaram com a Câmara.

Na lista, inclui Miguel Arraes, Gustavo Krause, Antônio Pereira, Jarbas Vasconcelos, Roberto Magalhães, Gilberto Marques Paulo e Augusto Lucena.

O peemedebista conquistou seu primeiro mandato aos 36 anos quando era filiado à União Democrática Nacional (UDN).

Mas desde os 16 já circulava entre o meio político e jornalístico como frequentador assíduo do antigo Café Lafayette, localizado na rua do Imperador.

Na década de 60, recebeu o apelido de “Coronel do Asfalto” devido às suas andanças pela cidade e à alta popularidade alcançada na área urbana.

Chegou, inclusive, a assumir a Prefeitura do Recife quando o então prefeito Miguel Arraes renunciou o cargo para ser Governador do Estado, em 1963.

Também foi eleito deputado estadual pelo MDB em 67, mas teve seu mandato cassado em 69 pela Ditadura Militar.

Na Câmara, ocupou quase todos os cargos da mesa diretora, de secretário à presidente.

No seu currículo há apenas uma mancha a qual não gosta de lembrar: o escândalo das “notas frias”.

O caso, que veio à tona em 2008, refere-se ao uso indevido das verbas indenizatórias concedidas aos vereadores.

O Tribunal de Contas do Estado terminou condenando 26 deles por compras em estabelecimentos fantasma e falsificação de documentos.

Liberato estava na lista de culpados. “Foi a pior coisa do mandato.

Nunca tive um momento igual àquele”, recordou emocionado.

Entretanto, sua vida pública na Casa é também marcada por fatos positivos.

Seu histórico inclui, por exemplo, a aprovação do projeto que insere a disciplina História do Recife na grade curricular das escolas municipais.

Admirador da Restauração Pernambucana e Confederação do Equador, ele costuma fazer referências constantes a “heróis” pernambucanos - como Frei Caneca - e aos aspectos culturais da cidade que, em sua opinião, é mais importante do Brasil. “Eu sou o Recife, eu vivo o Recife.

Eu não encontro expressão em língua viva para traduzir o quanto o Recife significa para mim”, afirma.

Definitivamente, um “municipalista nato”, como se auto-denomina.

Veja a entrevista exclusiva na edição do JC deste domingo