Cerca de quatro mil operários que trabalham no complexo portuário de Suape, Litoral Sul de Pernambuco, podem estar correndo sérios riscos de saúde e até de morte no ambiente de trabalho.
Diariamente, pouco mais de 200 pessoas estão sendo atendidas por uma clínica de Medicina do Trabalho no Centro do Cabo de Santo Agostinho, Região Metropolitana do Recife, de forma questionável, de acordo com médicos.
Mesmo não sendo licenciada pela Vigilância Sanitária municipal, a unidade estaria atuando há mais de dois anos sem estrutura adequada e emitindo o que médicos classificam como falsos laudos.
Resultado: liberação de pacientes que podem não estar aptos às suas atividades nas empresas em contratação.
Há 15 anos atuando na medicina do trabalho, sendo uma década como perito judicial da 6ª região do Tribunal Regional Federal do Trabalho, o médico Nelson Bérgamo se mostra abismado com a situação da unidade do Cabo de Santo Agostinho.
Para o especialista, o pior de tudo é o risco que os trabalhadores correm e colocam a outros. “Um homem operando uma grande máquina, sofre uma crise epiléptica no meio do trabalho e pode até matar uma pessoa numa obra!”, exemplifica.
Regulamentada desde a Constituição de 1988, Bérgamo se queixa, contudo, da falta de seriedade com que se cuida do assunto. “A Medicina do Trabalho ainda não tem a devida importância: empresários e órgãos de fiscalização dão atenção, simplesmente, a encontrar trabalhadores aptos às funções, sem saber das condições da realização dessas avaliações.
No dia em que um grande grupo descobrir como esses exames são feitos, certamente não mais credenciaram a clínica”. “Além de haver sobrecarga no atendimento (nem sempre feito por médicos), sem nenhum exagero, as fraudes nos exames alcançam a casa dos 90%, quando não são no mínimo mal feitos ou trocados, para ‘favorecer’ o cliente, sem ser visto como um paciente, que, estando doente, precisa ser tratado o quanto antes”, alerta um ouyro médico que já trabalhou no local e que não deseja identificar-se.
De acordo com os profissionais que fazem a denúncia, os problemas no local são visíveis a olho nu, Para seguir as normas sanitárias, a clínica de primeiro andar deveria facilitar o acesso de sua clientela, contudo, não possui rampa ou elevador.
As salas estariam cheias de mofo e mais: não há banheiro disponível.
Pior que não oferecer ambiente higiênico e acessível é realizar um trabalho sem qualidade, segundo denuncia um médico que já atuou no lugar.
A clínica Meditra Saúde já foi denunciada oficialmente ao Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe), contudo, o encarregado do assunto, José Carlos, não teria dado importância ao problema.
O Sindicato dos Trabalhadores em Construção Civil e Pesada no Estado de Pernambuco marcou e não compareceu ao encontro para tratar sobre as supostas irregularidades.
O Ministério Público do Trabalho estadual recebeu médicos denunciantes desde o dia 22 de outubro, emitindo termo de denúncia de número 310/2010, mas até o momento não teria dado andamento à pauta.