Editorial do Jornal do Commercio Um projeto audacioso pode transformar o decadente Porto do Recife novamente numa importante âncora para o desenvolvimento da capital pernambucana, impulsionando o turismo e a revitalização dos bairros do Recife, Santo Antônio e São José.

Planeja-se investir nos próximos dois anos algo em torno de R$ 100 milhões na reforma e requalificação dos velhos armazéns, atualmente entregues ao abandono ou em uso precário, para entregá-lo à iniciativa privada, mediante licitação para arrendamento.

O Porto Novo do Recife, como foi batizado, será um complexo de entretenimento, lazer e negócio.

Os empreendimentos ocuparão uma extensão de 1,3 quilômetro do cais, numa área que vai do Armazém 9 ao 14, onde se instalarão restaurantes, boliche, teatro para 400 lugares, cineteatro com 160 poltronas, cafés, auditório, lojas, escritórios, uma central de artesanato e o memorial Cais do Sertão Luiz Gonzaga (lançado na última visita do ex-presidente Lula a Pernambuco).

Os vizinhos Armazéns 7 e 8 integrados a essa nova área abrigando o um terminal marítimo de passageiros de padrão internacional.

A mudança da vocação comercial do Porto do Recife vem sendo discutida há pelo menos uma década, mas o processo de decadência econômica e esvaziamento começou nos anos 80, com a crise do açúcar, sua principal fonte de receita.

Até então o Porto do Recife era o mais importante do Norte e Nordeste, embarcando ainda tecidos, óleo de mamona, café, algodão e cimento, e desembarcando trigo e fertilizantes.

Com a perda de mercados, o assoreamento cais e a baixa profundidade do cais para atracação de grandes navios, as empresas e as companhias marítimas transferiram quase toda a carga para o moderno Porto de Suape.

A crise teve seu auge em 2005, quando o Porto do Recife fechou suas portas.

Nos últimos anos, nova dragagem do cais foi feita e suas atividades foram retomadas, um novo projeto foi desenhado.

O governo agora tem pressa.

Quer entregar as obras no fim de 2012 e que o Porto Novo do Recife esteja em plena operação na Copa do Mundo de 2014.

A urbanização da área entre o Armazém 9 e o 14 já começou.

Em fevereiro, a estatal que administra o porto vai lançar a licitação para a reforma a ser feita com recursos garantidos pelo Estado.

O governo anunciou que já tem garantidos os recursos para as obras.

Com a União tem reservados R$ 26 milhões para o Memorial Luiz Gonzaga.

O novo terminal marítimo de passageiros, que custará R$ 21 milhões, foi incluído no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da Copa.

Numa segunda etapa, serão revitalizados os Armazéns 15,16 e 17.

O Porto Novo do Recife espelha-se no exemplo do Puerto Madero de Buenos Aires, que foi requalificado e hoje abriga ótimos restaurantes, cinemas e lofts residenciais.

A restauração da zona portuária fez surgir praticamente um novo bairro, no Parque das Mulheres Argentinas, com comércio e vida autônoma.

Nele foram construídos moderníssimos empresariais, ocupados por grandes empresas argentinas e multinacionais, luxuosos hotéis, flats e edifícios residenciais, onde moram executivos e a classe alta portenha.

A revitalização de Puerto Madero espraiou-se por áreas vizinhas.

Incorporadores imobiliários e investidores já estão de olho nos desdobramentos econômicos do Porto Novo do Recife.

Eles acreditam que ele se irradiará pelos bairros do Recife, dinamizando a vida noturna, que anda a fogo-morto e atraindo pousadas e hotéis de charme.

O novo complexo cultural, de lazer e negócios ajudará também Santo Antônio, ainda carente de um projeto de reocupação dos grandes edifícios das Avenidas Guararapes e Dantas Barreto e adjacências, e chegará a São José, onde um vultoso projeto imobiliário de R$ 1 bilhão no Cais José Estelita, em terreno de 101,7 mil hectares que pertencia a antiga Rede Ferroviária Federal, está há um ano em análise na prefeitura.

A estimativa é que dentro de 60 dias o projeto obtenha sinal verde e comece a sua construção simultaneamente à zona portuária.

Alguns imóveis, com a valorização da região central do Recife e do empreendimento, poderão chegar a custar R$ 1 milhão.

Com o Porto Novo, a economia voltará a circular onde nasceu o Recife.