Da assessoria O Tribunal do Júri do Distrito Federal ouvirá, na segunda-feira, 31 de janeiro, às 9h, o depoimento do médico anestesista Nabil Bayeh, do corpo clínico do Hospital Prontonorte, na Asa Norte de Brasília.
Bayeh assistiu o cirurgião pernambucano Lucas Seixas Doca Júnior, radicado em Brasília, durante a segunda cirurgia a que ele submeteu a psicóloga Maria Cristina Alves da Silva, na noite de 15 de fevereiro de 2008.
Lucas havia operado Cristina pela primeira vez a 9 de fevereiro, para fazer uma redução de estômago na paciente, mas ela começou a passar mal na noite do dia 12.
Cristina morreu 60 horas depois da segunda operação, aos 37 anos, e o Ministério Público acusa o médico de homicídio com dolo eventual, sob as alegações de negligência e imperícia, denunciando que o cirurgião retardou, de forma injustificável, o socorro à paciente, arriscando provocar-lhe a morte.
Maria Cristina foi levada à cirurgia bariátrica – de redução de estômago – sem que o seu estado de saúde atendesse os requisitos estabelecidos pelo Ministério da Saúde para esse procedimento.
O caso foi denunciado pelo programa “Profissão Repórter”, da TV Globo, levado ao ar a 1º de junho de 2009 com o tema “Riscos da Vaidade”.
A cirurgia bariátrica é uma intervenção radical, indicada somente para pacientes claramente obesos, com Índice de Massa Corpórea (IMC) igual ou superior a 40.
A investigação do Ministério Público já detectou que, nas cinco semanas anteriores à operação, sucessivas aferições de IMC da psicóloga apontaram para nada menos do que oito índices diferentes – nenhum deles maior do que 35,3.
Por isso, o Ministério Público está igualmente interessado no depoimento que, no mesmo dia 31 de janeiro, prestará a endocrinologista Angela Beatriz Zappalá.
A médica foi convocada pela defesa do médico Lucas.
A 29 de janeiro de 2008, dez dias antes da primeira operação de Cristina, ela assinou um laudo de 26 linhas conferindo à psicóloga um IMC de 35,3 kg/m2 com comorbidades (doenças pré-existentes) que, em sua opinião, justificaria a operação.
No relatório Zappalá – a quem Lucas encaminhava rotineiramente seus pacientes – diz que um tratamento clínico e 14 anos de tentativas de emagrecimento sucessivas e frustadas reforçavam, no caso de Cristina, a necessidade da cirurgia bariátrica.
Mas essas afirmações não encontram apoio nos resultados dos exames pré-operatórios realizados pela psicóloga.
Cristina era portadora de hipotireoidismo, que requer cuidados específicos.
O médico Lucas deixou de tratá-la dessa enfermidade, optando pela via cirúrgica – na opinião do Ministério Público, movido pela remuneração que receberia pela redução de estômago, acima dos 20 mil reais.
Segunda cirurgia A expectativa da Promotoria de Justiça Criminal de Defesa dos Usuários dos Serviços de Saúde (Pró-Vida) do Distrito Federal é que o anestesista Nabil Bayeh esclareça o real estado de saúde com que Cristina chegou ao centro cirúrgico do Prontonorte, na noite de 15 de fevereiro.
A junta médica que assessora a família da vítima – formada pelos especialistas Marco Segre, Danilo Gagliardi e Rogério Tuma - não tem dúvidas de que a paciente só foi reoperada quando já havia sido acometida de uma peritonite difusa – o que o médico nega -, e seu estado de saúde era gravíssimo.
Apesar de descartar a peritonite, o médico Lucas relatou por escrito, no prontuário da paciente, ter empregado 20 litros de soro para lavar sua cavidade abdominal, sinal evidente de que encontrou pus e resíduos alimentares que haviam vazado do intestino de Maria Cristina.