Jamil Chade, do Estadão O desastre na região serrana do Rio de Janeiro pode ser “o tsunami político” do Brasil.
O alerta é da número 1 da ONU para a preparação contra desastres naturais, Margareta Walstrom.
Documentos do próprio governo brasileiro apontam falta de preparação para responder a desastres naturais.
Hoje temos mais de 800 mortos.
De quem é a responsabilidade?
Se pensamos na situação do Brasil há 20 ou 30 anos, a situação mais crítica do País era a seca.
Hoje vemos que o problema é outro.
O que vemos agora é uma acumulação de pequenas e médias enchentes.
Todas autoridades sabem dos riscos.
Mas a questão é como conseguir que o governo federal diga claramente que precisamos de um basta.
Que diga que o custo disso tudo chegou a um limite.
Estimo que esse momento chegou agora.
Por quê?
O custo político de ver mais de 800 pessoas morrerem assim talvez balance o governo e transforme o tema em alta prioridade.
A causa da morte é a falta de capacidade do Estado.
Quando o furacão Katrina atingiu os Estados Unidos, o que se descobriu é que o grande problema era a capacidade do Estado.
O Brasil havia criado um plano de alerta em 2005.
Até hoje o sistema não foi implementado e agora o governo diz que estará pronto em 2014.
Leva tanto tempo para ter um alerta?
Não.
Leva tempo para entender a necessidade.
O governo tem de entender que desastres naturais também são fundamentais.
Podem minar uma economia inteira.
Desastres podem causar instabilidade social e econômica.
Para muitos governos, o tsunami foi o que abriu os olhos para o fato de que não estavam preparados.
Espero que, politicamente, esse seja o tsunami brasileiro.
Após tsunami, Indonésia fez grandes progressos institucionais, além da Tailândia e Índia.
O governo fala em tirar 5 milhões de pessoas de morros.
Isso é possível?
Depende.
Só tirar não resolve.
Esvaziar a área pode causar grandes problemas.
Para onde irão?
Precisam trabalhar com cuidado.
As pessoas podem ser colocadas em áreas seguras.
Mas não adianta ter uma casa bonita e estarem isolados, sem transporte público, sem trabalho.
Eles podem ir.
Mas depois voltarão às suas regiões consideradas como perigosas.
Então qual é a solução? É o planejamento da expansão urbana.
No lugar onde ocorreu o deslizamento de terras no Brasil, muitas das ruas não tinham nem água encanada.
Não dá para viver assim.
Já há uma previsão dos custos que o desastre causou ao Brasil?
O prejuízo será de bilhões.
Mas o governo tem de ser honesto o suficiente para ir a cada casa e a cada família perguntar o que perderam.