Traição ou incompetência?
Por Alfredo Cesar Melo A traição em política não deve nunca ser entendida no seu sentido corrente, mas no decoro da própria política.
Trair um projeto político numa democracia partidarizada significa mentir para o povo e tratá-lo como idiota, sem levar em conta a fatura que tornou possível a continuidade de uma composição articulada de legendas. É claro que se pode sempre dizer: “formalmente nenhum partido saiu, a coligação é a mesma, então o projeto é o mesmo”.
Mas não é difícil provar a fragilidade de uma desculpa formal sem valor efetivo quando vemos alguém que fez parte do núcleo central de um projeto político falar como se apenas tivesse entrado no governo quando assumiu a prefeitura: Como entender essa frase do prefeito João da Costa: “É natural como em qualquer governo.
O terceiro ano é quando a gente começa a amadurecer tudo o que no primeiro e segundo ano se trabalhou.
Geralmente, no primeiro ano, você paga as dívidas do governo anterior.
No segundo, você elabora projetos e, no terceiro, você começa a colher o que o que plantou nos primeiros anos.” Só gorvernantes que receberam um mandato de um outro a quem faziam oposição poderiam sustentar tais ideias.
Alguém que se elegeu dizendo ao povo que continuaria um projeto político (João é João) não espera o terceiro ano para amadurecer o que se trabalhou nos oito anos que precederam seu mandato, porque a continuidade pressupõe o apredizado com as gestões anteriores.
Das duas uma (ou as duas mesmo) explicam o enfoque de tal discurso: incompetência e/ou traição.
O povo recifense não costuma perdoar nenhuma das duas “qualidades”.
PS: Alfredo Cesar Melo é cientista social formado pela UFPE.
Doutorou-se em literatura na Universidade da Califórnia e atualmente é professor de literatura brasileira na Universidade de Chicago, EUA.